Durante o mês de Agosto de 1918, há precisamente cem anos, Fernando da Silva Correia aproveitou uma licença de 8 dias (em que devia visitar Paris) para conhecer algumas localidades no sul de França. Uma delas já conhecemos, Cauterets, mas durante esses dias conheceu também Bordeaux, Lourdes e Pau.
Através do álbum, cujo título refere estas mesmas localidades, Fernando da Silva Correia conservou várias vistas dos sítios por onde passou. Mais tarde, estas fotografias, assim como os postais que ia remetendo à família, constituíram um dos assuntos mais frequentes na correspondência que trocavam. Precisamente no dia 17 de Agosto de 1918, o jovem médico enviou para a sua irmã Filomena uma das fotografias que havia tirado (não indicando a localidade) com a sua nova máquina.
Mas, é numa carta de 10 de Agosto que conta vários pormenores da licença que gozava. Em Pau, “em frente d’uma estatua de Henrique IV, sentado num café, ou antes à porta do mesmo, e refresc[and]o com uma cerveja”, escrevia ao pai. Acompanhara-o nessa viagem o camarada Mário da Conceição Rocha, já conhecedor dos locais por onde passavam. De Paris seguiu para Bordeaux e daí até Bayonne, “onde almocei no dia 8, seguindo para Lourdes onde cheguei à tarde, pelas 6 horas. Dei um passeio pela Gruta e Basilica e fui jantar. Depois passeei pela terra. No dia 9 de manhã fomos para Cauterets, pela montanha a 1053 metros d’altitude. Aspectos lindos!”
“Ouvi um sexteto ao ar livre perto do Casino des Oeufs, onde por acaso encontrei um filho do Affonso Costa que também lá está agora. À tarde voltamos a Lourdes, jantamos e depois fomos ver a costumada procissão à noite. Naquela noite era organizada por soldados belgas que veem passar a Lourdes suas licenças, visto que as não podem passar no seu país. Um espectaculo impressionante. (…). Caiu-me um pingo de cerveja na carta. Faça o favor de desculpar. Mas…continuando. Saimos hoje de Lourdes às 11 e meia, viemos almoçar a Pau e temos andado a ver a cidade que é linda e habitada por gente “chic”. Do sitio d’onde escrevo veem-se os Pyrineus e o enorme Valle du Gave. Tenho corrido a cidade de carro e a pé!”
“Logo parto para Bayonne onde espero 3 horas pelo comboio da meia noite que me deixa em Bordeus às 5 da manhã. Parto de Bordeus às 11 da manhã chego às 8 da noite a Paris onde durmo seguindo na manhã de 12, às 8 da manhã para Sommessous. Continuamos … à espera.”
Fernando da Silva Correia conta ainda que remetera para todos várias lembranças de Lourdes. Neste último parágrafo conhecemos a situação indefinida que vivia o Corpo de Artilharia Pesada Independente, instalados temporariamente em Somessous, depois do bombardeamento alemão ao seu acampamento em Baillel-sur-Theráin. Aqui temos o exemplo de um momento de lazer no seio de uma guerra que vitimou cerca de 8 milhões e meio de soldados.
Joana Beato Ribeiro
(Excertos de uma carta transcrita pela Doutora Natália Correia Guedes)
































