Entre 2014 e 2018, inúmeras realizações têm assinalado o centenário do conflito conhecido como “Grande Guerra” e, mais tarde, também designado “Primeira Guerra Mundial” (1914-1918). A associação Património Histórico – Grupo de Estudos (PH) junta-se a esta evocação com um conjunto de iniciativas que visam dar a conhecer o percurso do (então) jovem médico, Doutor Fernando da Silva Correia (1893-1966), entre janeiro de 1918 e maio 1919 na zona de guerra em França.
Desde 1993 que o PH tem à sua guarda o espólio do Doutor Fernando da Silva Correia, cedido pela sobrinha, Doutora Natália Correia Guedes que, entretanto, o ofereceu à associação em 2015. Nesse âmbito, tem procedido ao respetivo tratamento arquivístico e estudo, do qual resultou a realização de uma exposição no Palácio Real em 1993 e a publicação do livro Pergaminhos das Caldas em 1995. O centenário da Grande Guerra constitui agora a oportunidade de dar a conhecer exemplares inéditos do significativo acervo fotográfico que o Doutor Fernando da Silva Correia captou em França, acompanhados de textos explicativos resultantes de investigações em curso.
Natural do Sabugal, Fernando da Silva Correia – filho de Joaquim Manuel Correia, primeiro presidente da Câmara das Caldas da Rainha após a implantação da República em 1910, e de Carlota da Silva Correia – veio residir com a família para as Caldas da Rainha em 1905 e, apesar de ter concluído o seu percurso escolar e académico noutras cidades, em maio de 1919 foi nas Caldas que se veio fixar, aí residindo e aí instalando o seu consultório médico, na rua Rafael Bordalo Pinheiro, nº 22.
No início de fevereiro de 1918, o Doutor Fernando da Silva Correia encontrava-se em Bailleul-Sur-Thérain, França. É provavelmente nessa localidade que é fotografado e, para mais tarde recordar os momentos aí passados, coligiu um álbum de onde retirámos a fotografia que acompanha esta publicação, ao qual deu o “título” Durante a instrução – Bailleul-sur-Thérain – Beauvais – Chantilly – Paris -Tremblay – Mailly.
Partira de Lisboa a 10 de Janeiro de 1918 (conforme indica o seu boletim individual do CEP – Corpo Expedicionário Português -, disponível online no site do Arquivo Histórico Militar). Embora fosse tenente médico miliciano da Segunda Companhia do Segundo Grupo de Companhias de Saúde desde 1914 (segundo a sua caderneta militar), a ação do Doutor Fernando da Silva Correia na Grande Guerra não se desenvolveu junto da unidade a que pertencia.
Pouco tempo depois de iniciada a guerra (em setembro de 1914), a França, país aliado, pediu apoio a Portugal para completar o seu corpo de artilharia. Neste sentido, foi assinada (a 17 de maio de 1917) uma “Convenção Militar” que estabelecia as bases para a organização de um Corpo de Artilharia Pesada Independente – CAPI – que deveria integrar as forças do exército francês. Segundo o artigo décimo dessa Convenção, “Os doentes e feridos serão tratados nos hospitais e formações sanitárias Francesas, mas o governo Português fornecerá um médico por cada bateria para auxiliar os médicos Franceses”.
No caso da primeira bateria do CAPI, o médico escolhido foi o Doutor Fernando da Silva Correia. Este ter-se-á instalado no campo militar de Bailleul-sur-Thérain, previamente preparado para a instrução dos três grupos (e suas baterias) que compunham o CAPI. Foi neste campo militar que os grupos tiveram formação individual e coletiva junto do exército francês, contactando com as peças de artilharia que iriam manusear aquando das missões de que o CAPI foi incumbido.
Cem anos passados, em fevereiro de 2018, recordamos e localizamos o Doutor Fernando da Silva Correia no conflito que marcou e alterou o rumo do século XX.
Joana Beato Ribeiro
Património Histórico – Grupo de Estudos
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