Com o subtítulo de «Experiência, expectativa e práticas possíveis», este livro de Paula Godinho (n.1960) tem 354 páginas escolhe como título uma frase escrita em 2014 nas paredes da Universidade Nova de Lisboa mas também uma ideia de Federico García Lorca: «…os homens não trabalham para si mas para todos os que vêm atrás e este é o sentido moral de todas as revoluções e, em última instância, o verdadeiro sentido da vida.» Mas Camilo Castelo Branco tinha advertido: «A Poesia não tem presente; ou é esperança ou saudade». Outro sentido tem a frase de Kierkegaard que cito de memória: «Se as gerações não se sucedessem a nossa vida seria apenas vazio e desespero». Já para Ruy Belo «Só o presente se vive.» Fiquemos por aqui.
O objectivo do livro é, segundo a autora «rejeitar os fins anunciados» e estudar três casos concretos – os homens e as mulheres no Couço (Coruche) no tempo da Reforma Agrária, as trabalhadoras têxteis no Sul da Galiza na actualidade e os habitantes do Couto Misto (perto de Montalegre) no século XIX. Todos eles se integram no intervalo entre experiência e expectativa. O primeiro é «Lides de Rotina» sobre as costureiras de Verim, é um tempo hoje triste ontem feliz. Ontem «Aqui havia mulheres que não trabalhavam, que andavam pelas cafetarias porque o marido ganhava um bom salário» mas hoje «Como faz falta o dinheiro em casa, muitíssima gente vive das pensões dos velhos.»O Couto Misto é o segundo capítulo do livro e apresenta o título de «Na penumbra do Poder» estudando a memória do Couto Misto (Ruviás, Santiago e Meaus) além das chamadas aldeias promíscuas: Padornelos, Sendim, Donões, Sabuzedo, Soutelinho, Cambedo e Lama de Arcos. Sobre os habitantes daquela região caíram os epítetos de facínoras, ladrões, contrabandistas, malfeitores, criminoso e homicidas mas o problema era o tabaco: «Neste território he que se cultiva descaradamente o Tabaco» lê-se no relatório de um inspector português pouco tempo antes de em 1864 as três aldeias serem integradas no Estado Espanhol. O terceiro capítulo tem o título de «Ecos teimosos» e estuda o processo das UCPs do Couço : «Com a Reforma Agrária isto estava tudo cheio de arroz, de tabaco, de gente a trabalhar.» Esta alegria perdeu-se com a derrota da Reforma Agrária: «A Reforma Agrária não fracassou: era uma parte da revolução e foi derrotada com ela.»
Entre a História e a Antropologia são periféricos os temas e as realidades; o Couto Misto fica na periferia das Cortes de Lisboa e Madrid, o Couço fica na periferia do distrito de Santarém, as costureiras de Verim ficam na periferia das casas que fabricam os produtos para venda nas lojas dos grandes centros comerciais. Uma nota algo insólita: aqui se juntam textos traduzidos de Italo Calvino, Leão Tolstoi, Manuel Vásquez Montalbán ou Karl Marx com outros não traduzidos de Eduardo Galeano, Marco Benedetti, Eugène Pottier e Almudena Grandes.
(Editora: Letra Livre/Através Editora, Capa: Pedro Serpa, Revisão: Andreia Baleiras, Paginação: Ricardo Cabanelas)