Mário de Carvalho (n. 1944) é um Mestre da Literatura desde o seu primeiro livro em 1981 («Contos da Sétimas Esfera») e este recente volume de contos só vem confirmar. O título de «Mestre» surge pela idade e pela sabedoria; pode dizer-se que o equivalente a este livro de contos no século XIX é (para mim) «Doze casamentos felizes» de Camilo Castelo Branco.
Não são mil mas muitas as «belas em frol» que povoam este livro de contos: Gherda, Madalena, Antonieta, Cremilde, Mónica, Olga, Marta, Patrícia. Magda, Dionilde, Zulmira, Bruna, Aurora. Adozinda, Yolanda, uma que é só a Senhora, outra que é só a Católica. Vejamos essa figura: «Era muito católica, casada não praticante, marido no estrangeiro.» Num hotel com vista para o mar surge a euforia («Que saudades eu tinha disto») e o tardio desabafo: «Nunca me perdoarei! Não me diga nada agora. Deus me perdoe.»
Pelo meio das aventuras surge por escrito uma moral para a Vida: «Apostar e perder também ajuda ao viver» que se completa noutra ideia: «Já não há amores eternos. Já basta que não sejam infelizes.»
Nestas 16 história e 1 epílogo há de tudo um pouco, a surpresa é permanente mas um dos mais curiosos temas é o do triângulo amoroso no conto da página 65 quando Zulmira adverte solenemente («Só consigo fazer amor com desconhecidos») e Bruna insiste: «Até pensaria que eu lhe estou a roubar o namorado.» Outro aspecto é a referência a nomes que depois não chegam a povoar as histórias como Sandra e Rebeca na página 69.
O sentido de humor de Mário de Carvalho está presente na página 23 depois de uma das «meninas» anunciar a sua ida para Haia: «Bem que serão felizes tantos holandeses».
O melhor que se pode dizer deste livro é que, acabada a leitura na página 101 apetece voltar à página 13. Trata-se da teoria do eterno retorno aliada ao prazer do texto. Nota final: livro a não perder.
(Editora: Porto Editora).

































