UM LIVRO POR SEMANA / 514 / «O amor em Lobito Bay» de Lídia Jorge

0
918
notícias das Caldas
| D.R

Lídia JorgeDepois de «A instrumentalina» (1992), «Marido e outros contos» (1997), «O belo adormecido» (2004), «Praça de Londres» (2008) e «O organista» (2014), Lídia Jorge volta ao conto com «O amor em Lobito Bay» (2016). O conto integra a síntese do poema e o torrencial de narrativa, é um ponto de equilíbrio entre a brevidade e a abundância, entre o curto e o extenso.

No conto que dá título ao livro o ponto de partida é a casa: «A nossa casa em Lobito Bay estava coberta por telhas de barro.» Nesse paraíso perdido nasce um rumor «aquele que comesse o coração de uma andorinha apanhada em pleno voo, tornar-se-ia o maior corredor do mundo». Mas em vez da andorinha são homens que morrem: «Os carros levavam consigo, voando junto às espingardas, as insígnias do MPLA. Agora era a festa daqueles que traziam as insígnias da FNLA. Os tiros soavam sem cessar à nossa volta.» O narrador deste conto conclui: «Só onde não há amor não há culpa».
Os restantes contos deste livro são «Overbooking», «O tempo do esplendor», «Imitação do êxodo», «Passagem para Marion», «Um rio chamado mulher», «Novo mundo», «Dama polaca voando em limusine preta» e «O poeta inglês». Apenas duas notas: como a literatura é uma homenagem à literatura, algumas das páginas do livro apontam homenagens a Hemingway, Faulkner, Mark Twain e Tenesse Williams. Noutra se depara com uma definição de poesia: «Os poemas dele não eram só dele, eram a nossa matéria, a matéria que eleva os homens acima dos caminhos trilhados pelos seus sapatos e por ela trocamos tudo, honra, dinheiro, felicidade, essa aposta que fazemos em coisas cegas, por sabermos que existe uma essência que as fabrica para além de nós. Alguma coisa de poderoso, de mensageiro em nós.»
Trata-se, por fim e para abreviar, de um livro de contos a não perder.
(Editora: Dom Quixote, Revisão: Clara Boléo, Edição: Cecília Andrade, Capa: Maria Manuel Lacerda, Foto: João Pedro Marnoto)

- publicidade -