UM LIVRO POR SEMANA / 484 / José do Carmo Francisco «Um jantar de escritores» de José Viale Moutinho

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| D.R.
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Portugal é um país de analfabetos que conhece Bocage (1665-1805) pelas anedotas atribuídas e Bulhão Pato (1829-1912) pelas amêijoas. Por acaso (ou não) as amêijoas são de Mestre João da Matta tal como a carne de porco à alentejana é para disfarçar o sabor da carne de porco algarvia, criada com o peixe dos pescadores e as suas «lavaduras». Mas isso é outro assunto.

Este livro de 155 páginas tem os seguintes capítulos: entradas, sopa, caldo, açorda, papas, pão, boroa, saladas, peixes, mariscos, carnes, sobremesas, vinhos, digestivos, arroz malandro e refogado queimado (e uma pitada de tabaco?). O mérito de José Viale Moutinho (n.1945) é reunir um seguro e completo inventário; «selecção de textos e notas epicuristas» chamou o autor à sua tarefa. Uma das curiosidades deste livro é perceber-se que o nome «O prato de arroz doce» de A.A. Teixeira de Vasconcelos (1816-1879) é o título de um romance sobre o movimento político da Patuleia; o livro é de 1862. Outra curiosidade está na página 46: surge a referência a quatro mariscos que são afinal três : arola, caranguejo e navegante. Outra curiosidade é um texto de Fialho de Almeida (1857-1911) sobre o seu arroz de perdiz com o qual antecipou a Páscoa em três dias: «Estava eu a prepará-lo na Rua da Condessa em Sexta de Paixão e nisto quatro argoladas na porta, de tremer. Vai a criada … era Nossa Senhora da Soledade que, saída da procissão do enterro, vira de repente erguer-se do esquife o Salvador do Mundo, gritando párem! párem! – mal lhe chegaram às ventas os perfumes ressurrecionais do meu arroz. – Ressuscitou. E a respeito de subir ao céu? – Qual subiu ao céu! Jantou connosco.»
Para concluir – uma delícia de livro.
(Edição: Colares Editora, Capa: Fedra Santos, Grafismo: Sarah Goes)
Este livro de 155 páginas tem os seguintes capítulos: entradas, sopa, caldo, açorda, papas, pão, boroa, saladas, peixes, mariscos, carnes, sobremesas, vinhos, digestivos, arroz malandro e refogado queimado (e uma pitada de tabaco?). O mérito de José Viale Moutinho (n.1945) é reunir um seguro e completo inventário; «selecção de textos e notas epicuristas» chamou o autor à sua tarefa. Uma das curiosidades deste livro é perceber-se que o nome «O prato de arroz doce» de A.A. Teixeira de Vasconcelos (1816-1879) é o título de um romance sobre o movimento político da Patuleia; o livro é de 1862. Outra curiosidade está na página 46: surge a referência a quatro mariscos que são afinal três : arola, caranguejo e navegante. Outra curiosidade é um texto de Fialho de Almeida (1857-1911) sobre o seu arroz de perdiz com o qual antecipou a Páscoa em três dias: «Estava eu a prepará-lo na Rua da Condessa em Sexta de Paixão e nisto quatro argoladas na porta, de tremer. Vai a criada … era Nossa Senhora da Soledade que, saída da procissão do enterro, vira de repente erguer-se do esquife o Salvador do Mundo, gritando párem! párem! – mal lhe chegaram às ventas os perfumes ressurrecionais do meu arroz. – Ressuscitou. E a respeito de subir ao céu? – Qual subiu ao céu! Jantou connosco.»
Para concluir – uma delícia de livro.
(Edição: Colares Editora, Capa: Fedra Santos, Grafismo: Sarah Goes)

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