Um Livro Por Semana 390

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tristezas«Tristezas à beira-mar» de Manuel Pinheiro Chagas

Este romance, o único cuja acção decorre por inteiro na Ericeira, surgiu em 1866 no jornal «Comércio do Porto» em forma de folhetim. Seu autor, Manuel Pinheiro Chagas (1842-1895) tinha ao tempo 24 anos e viu a Parceria A.M. Pereira editar o seu folhetim em livro, volume inaugural de uma nova colecção. O ponto de partida para o drama é uma casa situada na branca vila da Ericeira: «pendurada como um ninho de gaivotas, na solitária fraga». Além de Leonor, essa casa tem como habitantes «um velho quase octogenário, uma velha ainda mais idosa, dois criados e uma criada». Às terças, quintas e sábados a casa do avô de Leonor era frequentada por três figuras – «o comandante do forte, o administrador e o boticário da terra» É nesse espaço definido que Leonor e Jorge vivem um amor feliz até à chegada de Madalena que vem de Lisboa – «o seu rosto podia, pela pureza das linhas, servir de modelo às mais acabadas criações doa artistas italianos». Para o autor do livro «Leonor era a flor das solidões e Madalena a rosa das salas». Talvez por isso Madalena responde um dia a Leonor: «Não me perguntes o que são amores, pergunta-me o que são tristezas!»
O triângulo (Jorge, Madalena, Leonor) não resiste às tempestades sentimentais do romance e acaba por se desmoronar. Jorge casa com Madalena, vai para Lisboa e deixa Leonor na solidão da Ericeira. A Cidade vence o Campo mas no final é na casa da Ericeira que Madalena, já viúva vem descansar com a sua jovem filha (Leonor) junto de sua irmã Leonor. Jorge morre no naufrágio do vapor «Porto» quando ia à cidade do Porto receber uma inesperada herança de um tio. O Campo vence a Cidade no final, Lisboa perde para a Ericeira.
Manuel Pinheiro Chagas hoje escreveria este livro de outra maneira. Evitaria o abuso dos advérbios de modo e o recurso ao lugar-comum como por exemplo na página 83 – «O forte da Ericeira é um desses recintos fortificados» ou o descuido de escrever Donizette por Donizetti na página 75. Um clássico que resistiu ao tempo e ainda hoje se lê com proveito.
(Editora: Mar de Letras, Introdução: Sebastião Dinis, Fotografias. Jorge Oliveira, Capa: Maria João Gromicho)

José do Carmo Francisco   

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