UM LIVRO POR SEMANA 374

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«EIA – Evidências, Inscrições, Aforismos» de Cristino Cortes

Untitled-1Este 11º título poético de Cristino Cortes (n.1953) é um livro diferente dos anteriores tal como José Fernando Tavares assinala no prefácio: «Não obstante o lado divertido desta poesia, não deixa o leitor de se encontrar perante um trabalho sério porque maduramente reflectido». Apesar de o título referir três ordens (Evidências, Inscrições, Aforismos) este livro organiza-se de facto em quatro secções: Inscrições, Dísticos, Tercetos e Quartetos.
No primeiro grupo o autor define-se como alguém que incorpora os outros no seu discurso («Eu sou o outro de cada um de vós»); o mesmo é dizer «Em meu poema há sempre um tu». Entre o «eu» e o «tu» fica o fascínio da palavra («Uma só palavra anula o vazio») mas também do silêncio: «Se quiseres ouvir o som da vida não faças barulho». No segundo grupo o poeta adverte («Se filosofares na rua / Poderás ser atropelado») mas também explica «Para ouvires o mundo / Tens de te calar». Nesta dupla inscrição de um lado fica o prazer («As melhores melodias / São as risadas dos meus filhos») e do outro os limites: «Jamais saberás qual a medida certa / Se antes não provares o excesso».
No terceiro grupo os poemas organizam um mapa de sabedoria.
Desde a meteorologia («Se fosse eu a mandar / Raramente chovia / – E nunca de dia!») e a vida na rua («Rico, rico mesmo / É o que sente quente o coração / – Mesmo que durma no chão») até à crítica literária: «Agradece aos que te criticam / Mais eles te ajudam / Que os tão só te louvam».
No quarto grupo as quadras estabelecem o equilíbrio entre a Natureza e a Cultura. Primeiro a Vida («Há pois um tempo para tudo / Mas cada um é o que faz») depois a Poesia: «Entre os poetas / Um novo poeta tem sempre lugar / – E para se instalar / Não precisa ninguém se afastar».

(Edições Sempre-em-Pé, Prefácio: José Fernando Tavares, Capa: Ingrid Klinkby)
José do Carmo Francisco

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