Escrita em Salamanca em 1911, esta pequena obra-prima da literatura (segundo Jorge Luís Borges) relata os amores de Ricardo que, junto da grade da casa, dizia para Ludovina: «Não tenho mais nada que fazer, senão olhar para ti». Amores contrariados pelas famílias: «Nem a mãe dela nem o pai dele queriam aceder a dar-lhes o consentimento para se casarem». Os dois fogem de comboio mas regressam passados poucos dias. Ela a uma tia paterna («Não te fazia tão criança!») e ele ao pai («Palerma!»). Ricardo, no convento para onde foge, queima a última resposta dela sem abrir a carta e torna-se um frade complicado: «Procura destacar-se; supõe-se superior aos outros; despreza os companheiros». Ludovina refugia-se num convento de uma vila escondida numa serra agreste: «Ali se enterraria em vida, à espera da morte, da justiça divina e do amor que sacia». Mas é nesse casarão conventual da Província que se resolve esta história circular iniciada junto de um casarão da Cidade perto das muralhas de um convento. Frei Ricardo vem pregar um sermão e reencontra Sóror Ludovina: «Ao estreitarem-se e confundirem-se em um só os soluços de ambos, fundiram-se-lhes os corações e ficou a nu, e descoberto, o amor que, a partir daquela triste fuga, os sustentara pelos caminhos solitários. E a partir desse dia…»
(Editora: Padrões Culturais, Tradução: Alberto Cardoso, Paginação: Mário Andrade)
José do Carmo Francisco
































