Foi um bocado confrangedor aquilo que li na rubrica “Um Livro por Semana – 568” de José do Carmo Francisco, na edição da Gazeta das Caldas de 11 de Agosto, sobre o livro “Últimos no Leste de Angola, na Retirada do Exército Português em 1975”, de que fui autor. Isto porque além de diversas imprecisões e erros de leitura, a recensão de JCF não evoca nunca o tema principal do livro, que é a retirada do Batalhão de Artilharia 6221/74 da cidade do Luso (actual Luena) para a de Nova Lisboa (actual Huambo) e o ataque da UNITA às tropas portuguesas para o roubo das cinco toneladas de armas e munições que transportavamos.
JCF foca apenas aspectos do livro que têm a ver com excertos que acompanham a cronologia geral da narrativa principal e que servem para colocar tudo aquilo no timing correcto dos acontecimentos da altura. JCF ressalta por exemplo “uma atitude contra a corrente” (não sei o que quer dizer com isto) quando não refiro o “assassinato do soldado Joaquim Carvalho Luís” no ataque dos caças da Base Aérea de Tancos, afecta a Spínola, na tentativa de golpe de 11 de Março. Não sei onde é que JCF viu um assassinato na acção militar – apesar de tudo, foi uma acção militar – de bombardeamento da força aérea afecta a Spínola ao R.A.L. 1 (Regimento de Artilharia Ligeira 1), onde foram vitimados 16 militares, sendo um deles mortalmente atingido – o referido soldado. Referir isto como um assassinato, é um bocado espúrio para não dizer outra coisa.
Mas o mais grave, e que denota a falta de atenção de JCF na leitura do exemplar do livro que lhe enviei, é quando escreve que o “Furriel Dias foi antes cabo-miliciano…” Ora nunca fui cabo-miliciano! Isto porque o Decreto-Lei 412/74, de 6 de Setembro de 1974, do Diário da República, extingiu o posto de Cabo-Miliciano, criando em sua substituição o posto de 2º Furriel Miliciano. Portanto quando terminei o Curso de Sargentos em Setembro de 1974, fui automáticamente promovido a 2º Furriel! E isto está explicado no livro.
Contudo o mais importante, é que me parece lamentável que a recensão de um livro não foque sequer o motivo principal do mesmo e refira apenas aspectos secundários, ainda para mais apoiados em opiniões discutíveis ou interpretações erradas.
Jorge Machado-Dias
































