Removida, finalmente, a derradeira ameaça à felicidade dos caldenses.
Durou semanas a angústia provocada pela incerteza quanto ao desfecho de “O Caso do Flautista”, o derradeiro óbice ao Paraíso da Rainha.
Na verdade…
– as obras de requalificação (?) da zona histórica arrancavam já;
– os edifícios em ruínas, a sujidade (papéis, plásticos esvoaçantes, saibro solto) das ruas, a irregularidade dos passeios, os quase perenes tapumes de obras eram pesadelo do passado;
– nas vias rurais (v.g., Vale Serrão e Ribeira dos Amiais) a segurança dos peões, a quem a febre do asfalto pré-eleitoral foi olimpicamente roubando o que restava das bermas, assegurada estava com a construção de incontáveis muros (!) transversais;
– o ajardinado urbano (num município que, fora dos domínios do Hospital, abominava o verde) exibia-se já em tufos de luxuriante vegetação (só aparentemente daninha) nas falhas de lancil dos novos arruamentos e nas desdentadas calçadas;
– das legiões de indigentes que nos parques de estacionamento se dedicavam à extorsão (as almas mais piedosas e socialmente correctas insistiam em chamar-lhes “arrumadores”) era longínqua a memória.
Restava, pois, “o flautista”. Como enfrentar a tão grave, e já única, ameaça sem desafiar o destino? Certo era que a probabilidade de os ratos levarem sumiço era mínima – afinal o tocador de pífaro que nos calhou, ao contrário do da ingrata cidade germânica da lenda, até gosta de animais. Mas vingar-se-ia, também o nosso, escondendo no ventre da Terra ou, quem sabe, fazendo mergulhar nos abismos do mar os infantes do burgo que lhe impunha a exibição no fundo do boné do alvará que legitimaria as parcas moedas? Assustador!
Mas se Deus não dorme, a Câmara Municipal esteve, mais uma vez, bem acordada, revelando que a sua presidência não se agiganta somente nos seus, cada vez mais frequentes, 15 minutos de glória e mostrando que nunca um vacuum legis foi tão providencial.
Nicolau Marques
































