Considerando a petição dos comerciantes para a reabertura ao trânsito na R. Heróis da Grande Guerra, penso tornar necessário clarificar algumas das questões apresentadas na opinião de um leitor, publicada sobre o assunto na edição da Gazeta das Caldas.
É importante começar por esclarecer que o objectivo dos comerciantes caldenses é colocar pessoas, e não carros, nas ruas da cidade. Porque é das pessoas que necessitamos, são elas os nossos potenciais clientes, mas para que tal suceda é importante, que sejam criadas condições para que as pessoas cheguem e se possam movimentar no centro da cidade.
Como é sabido Caldas da Rainha tem uma oferta de comércio e serviços para uma população superior a 150.000 pessoas, segundo informação contida no estudo mandado efectuar ao Comércio a mando da Câmara Municipal.
Temos aqui evidente um problema de números; se o nosso concelho tem cerca de 50.000 mil habitantes e a oferta comercial tem por objectivo 150.000 pessoas, obtemos um deficit de 100.000 pessoas que obrigatoriamente têm que ser provenientes de outras localidades.
Presentemente além da dificuldade da captação dessas 100.000 pessoas, acrescente-se a falta de estruturas para acolher essa população flutuante, na maior dos casos transportada em viatura própria, que chegada às Caldas da Rainha, não tem ao seu dispor as condições e os espaços necessários para uma confortável locomoção citadina. As actuais e quase que intermináveis obras em realização no centro histórico, a perdurarem até 2015 (na melhor das hipóteses), vieram criar uma situação ainda mais caótica de deslocação no centro da cidade.
A sabedoria para saber sobreviver às crises é principalmente o redimensionamento e a adaptação às novas realidades e aos novos desafios. É isso que todos nós, Portugueses, temos sido obrigados a fazer tanto na nossa vida pessoal como na profissional. Também é importante que a cidade, e quem a dirige, tenha a capacidade de o fazer.
Nas actuais circunstâncias é compreensível que se proceda a alterações de situações existentes, se daí advier um benefício, como é o caso do trânsito na Rua Heróis da Grande Guerra. De salientar que actualmente na pseudo pedonal rua Heróis da Grande Guerra, circulam durante o todo o dia, a cada 20 minutos passam três autocarros da carreira do Toma; circulam ainda sem quaisquer restrições, táxis, veículos de transportes de valores, veículos camarários de diversos serviços, veículos das autoridades, das operadoras de telecomunicações, e dezenas de outros devidamente licenciados pela autarquia.
Parece-nos então aceitável que numa artéria que não é predominantemente pedonal, cujo projecto inicial previa a coabitação pacífica entre peões e veículos, cujo pavimento foi planeado para que exista circulação pedonal e automóvel, seja implementado, em regime experimental, um regulamento de trânsito em que seja permitida a circulação unicamente a veículos ligeiros, com velocidade controlada de 30 kms / hora, sem possibilidade de estacionamento, e com sinalética informativa das regras e dos parques de estacionamento.
O nosso único objectivo é que as pessoas fiquem no centro da cidade, que estacionem nos parques de estacionamento existentes, que visitem e que desfrutem de tudo o que a cidade tem para oferecer, que fiquem no centro histórico.
O nosso pensamento é para com as pessoas, para todos os que vivem, que trabalham, que estudam na cidade, os que nos visitam em lazer, quem nos procura para “consumir”, para quem tem que fazer e fazer acontecer na cidade. Porque são as pessoas que dão vida às cidades, pudemos dispor das melhores ruas pedonais, de todas as praças fechadas ao tráfego automóvel, na certeza de que se não temos pessoas, não temos uma cidade, temos ruínas, e para tal já nos bastam as termas moribundas, uma “praça da fruta” em morte lenta, os pavilhões do parque em queda, etc, etc.
Não é normal que tenhamos que ser nós a propor uma alteração ao trânsito para tentar minimizar uma situação de atrofia na cidade e da falta de pessoas nas ruas, porque uma cidade pensada e planeada, teria uma estratégica onde se incluiria a vida e as necessidades dos seus habitantes, dos trabalhadores, dos empresários, dos estudantes, dos consumidores, dos turistas, de todos os que entram, saem e circulam diariamente na nossa cidade.
É a solução para a crise e as dificuldades do comércio Caldense? Claro que não, mas se ficarmos pacificamente à espera que algo aconteça, então será garantidamente mais devastador.
Paulo Ferreira Agostinho
































