António José Correia
ex-autarca
Há dias passou pelas nossas águas um sueco, Jonas Böhlmark, em stand up paddle. Vem dos países nórdicos, vive com bipolaridade e encontrou nos desafios extremos a forma de ultrapassar a sua condição. A Gazeta das Caldas deu destaque à sua aventura: pagaiar da Noruega até Gibraltar. Quando por aqui passou, rumo a sul, já levava mais de mil dias no mar…
A comunidade de Peniche, tal como a da Ericeira, acolheu-o. E Jonas, por iniciativa própria, com o apoio do município de Mafra e do Ericeira Surf Clube, deu uma conferência, em que estive presente e de onde destaco três mensagens. Primeiro, o acolhimento e a solidariedade que tem sentido, em particular, ao longo da costa portuguesa: “a humanidade é muito melhor do que aquilo que os media e as redes sociais fazem crer”. Segundo, o facto de nunca se sentir só no mar, na natureza, ao contrário de vezes em que, por exemplo, num café cheio de gente, a solidão pesa. Terceiro, a mensagem mais forte: qualquer que seja o desafio, qualquer que seja a nossa condição, é essencial ter um propósito. Só com propósitos fortes vamos longe.
Este testemunho é um bom mote para outra reflexão. Passaram recentemente quase despercebidos na comunicação social os Campeonatos Mundiais de Canoagem, onde atletas portugueses conquistaram medalhas, nomeadamente, de ouro. Todos celebramos os pódios, exultamos o orgulho nacional, mas logo depois os apoios escasseiam. Ainda esta semana, um clube do norte do país, que até tinha objetivos para os jogos olímpicos, cessou a sua atividade de paracanoagem por falta de meios. “A bota não bate com a perdigota”.
À porta das eleições municipais de 12 de outubro, deixo um desafio: que os autarcas da nossa região façam do apoio ao desporto náutico um verdadeiro propósito. Não apenas palavras, mas programas concretos que promovam a prática de desportos náuticos, nomeadamente, da vela, da canoagem, do surfing e do remo, estimulando nas nossas crianças e jovens o gosto pela água e pelo mar.
Muito já é feito, aproveitando a nossa costa, a nossa Lagoa e a nossa Baía de S. Martinho do Porto. Mas, só com um propósito consistente, com financiamento e planeamento, poderemos sonhar legitimamente com medalhas nos Europeus, Mundiais e nos Jogos Olímpicos. Seria inspirador que, no quadro da Comunidade Intermunicipal do Oeste, se desenhasse um plano de desenvolvimento do desporto náutico que estruturasse modalidades e etapas, honrando os recentes feitos de canoístas, verdadeiros embaixadores de Portugal, como o Fernando Pimenta, o João Ribeiro, o Messias Batista, o Gustavo Gonçalves e o Pedro Casinha.
Tal como o nosso João Almeida, no ciclismo, fruto de trabalho de base, também nos desportos náuticos poderíamos ter orgulho em conquistas alicerçadas num caminho sólido. Um propósito partilhado pela região, transformado em ação, envolvendo os Clubes, as escolas, as empresas, as famílias, pode ser a diferença entre sonhar com medalhas… e conquistá-las.

































