Aproximando-se eleições legislativas a Linha do Oeste torna-se, evidentemente, um dos temas de campanha, sendo certo que os problemas com que se confronta a ligação ferroviária que serve a nossa região se arrastam há demasiado tempo. As políticas dos sucessivos governos, recorrendo ao desinvestimento e desorçamentação, desqualificaram e desvalorizaram a ferrovia com particular incidência e nefastas consequências na Linha do Oeste, sempre alvo de grandes promessas em períodos eleitorais para, de seguida, cair no esquecimento absoluto como prática instalada. Avolumam-se agora os perigos de privatização, constituindo a fusão da Refer com as Estradas de Portugal e a formalização da venda da CP Carga nítidos avanços nesse sentido.
No entanto, a Linha do Oeste mantém intactas as suas potencialidades, como se viu com a muito bem sucedida experiência de reintrodução do tradicional comboio da praia, que durante o Verão ligava Caldas da Rainha a S. Martinho do Porto e, para além disso, continua a ser um eixo estratégico na rede ferroviária nacional pela importância que tem nas ligações inter-regionais (Área Metropolitana de Lisboa – Oeste – Coimbra/Figueira da Foz), nas ligações intrarregionais na região Oeste (Torres Vedras – Bombarral – Caldas da Rainha – Leiria) e também no transporte de mercadorias e no escoamento de produtos industriais com ramais próprios em unidades fabris.
Mas os problemas estruturais subsistem e não serão resolvidos com o alegado plano de modernização para concretizar – talvez, quem sabe? – a partir de 2016: o traçado da linha a jusante de Torres Vedras revela-se desajustado para as actuais necessidades; o material circulante é antiquado e acarreta custos acrescidos em termos económicos e ambientais; encerramento de estações e apeadeiros ou a funcionar sem um mínimo de condições de conforto e informação aos utentes, verificando-se a indesmentível degradação da qualidade e quantidade dos serviços prestados.
Impõe-se com urgência a aplicação progressiva de um conjunto de medidas imprescindíveis:
– Duplicação e electrificação do traçado entre Meleças e Louriçal e sua revisão e reconfiguração a partir de Torres Vedras até Lisboa, na direcção da Gare do Oriente e posterior electrificação e sinalização automática de toda a linha.
– Aplicação dum plano intermodal que envolva os transportes rodoviários nos principais centros urbanos cruzados pela Linha do Oeste: Torres Vedras, Caldas da Rainha e Leiria.
– Tarifas apelativas ao uso do transporte ferroviário.
– Horários adequados às necessidades dos utentes.
– Infraestruturas modernizadas nas estações e apeadeiros.
– Estudo de viabilidade de um troço de ligação à Linha do Norte, por Pombal.
É de facto imprescindível uma outra política, um outro entendimento, com propostas e soluções concretas, capaz de ultrapassar este premeditado impasse que resulta em claro prejuízo e desrespeito das aspirações das populações. Lamentavelmente, constata-se que deputados de forças políticas eleitos neste distrito, abandonando as boas intenções manifestadas localmente, na Assembleia da República, tenham impedido, com o seu voto contra, a remoção de obstáculos visando a resolução deste grave e preocupante assunto. Fazem lembrar o refrão da cantiga popular sobre o comboio que atravessava o sertão nordestino: «e o trem, por aquelas brenhas, soltando brasa, queimando lenha, tanto queima como atrasa»…
O governo neste aspecto (e não só!) faz igual: tanto queima como atrasa!
José Carlos Faria
jcrffaria@gmail.com
































