Sintomas

0
1173
Bruno Reis Santos (Mantraste)

Como artista, penso muito muitas vezes no que vale o meu trabalho em dias como estes que vivemos, admito que a palavra artista é algo que evito e que me deixa de certa forma embaraçado, pois não me vejo como tal, mas tento levar à letra as palavras de J. Krishnamurti quando ele diz que “o verdadeiro artista é aquele que vive a sua vida como uma obra de arte”. Então, apesar do isolamento é assim que tento ver as coisas, com optimismo e mesmo tendo alguns trabalhos cancelados, tenho a sorte de continuar com trabalho para fazer e embora envolvido por uma incerteza, essa incerteza cria uma certa resistência, que por sua vez gera um não trabalho e me dá tempo para pensar sobre a situação actual e para onde nos vai levar. A cada dia que passa é mais visível como frágil é a estrutura social onde vivemos, basta parar umas semanas para esta começar a colapsar e a dar de si. Eu por exemplo, que tenho vindo a trabalhar para pagar um quarto e um atelier em Lisboa, sustento este estilo de vida para estar mais perto de amigos, para estar mais perto de “oportunidades” e de outras tantas ofertas culturais, vejo me agora confinado aqui neste quarto onde vejo pouco mais do que prédios, filmes e livros. E se eu não via, agora consigo ver que isto pouco sentido faz, é demasiada gente para tão pouca qualidade de vida e isso fez me pensar em mudar, mudar hábitos, mudar objectivos, mudar para as Caldas ainda este ano, mas volto não só para me preparar para os dias mais duros que hão de vir mas também para estar mais perto da família, da natureza, e de algo mais parecido com uma comunidade. Mas por enquanto vou aguardando que se possa sair à rua, sabendo que não vou encontrar a vida como a havia deixado.
Há uns dias encontrei um texto de um colega da ESAD a falar sobre a situação actual, penso que é nestas palavras que se encontra a solução para o que aí vem, despeço-me então com um excerto desse texto do Pedro Oliveira, artista que muito me inspirou nos primeiros anos de faculdade:
“Se há coisa que este vírus nos veio demonstrar é que o boicote acaba por ser extremamente eficaz no combate a este capitalismo agressivo em que o mundo tinha e tem evoluído e é imperativo que as pessoas comecem a repensar os seus modos de consumo, nomeadamente alimentares, a política de consumo local é essencial, de proximidade e sobretudo amiga do planeta, isto quer dizer, de origem “biológica” sem químicos, sem venenos. Para o consumo de carne é igual, reduzir e rever a origem das carnes, não participar neste comércio que escraviza e maltrata os animais, isso é completamente incompatível com o desenvolvimento sustentável, harmonioso e feliz do planeta!”

Não tenham medo e sim curiosidade

Bruno Reis Santos 03
(Mantraste)

- publicidade -