Hoje quero falar de um tema importante: a formação de novos dentistas.
É aquela época em que os jovens adultos acabam o 12º ano e se vêm confrontados pela escolha de curso – onde devem decidir qual será a profissão que vão praticar durante a maior parte da sua vida adulta.
Então, quem deve considerar uma carreira na área da medicina dentária?
Bem, historicamente, há várias razões pelas quais alguém se inicia nos meandros da profissão:
A primeira e incontornável é o dinheiro. Durante muitos anos, ser dentista era um atestado de riqueza. Muitos leitores terão ainda essa impressão, mas é falsa. Essa riqueza já se foi há muitos anos, e hoje é limitada, quase sempre, às gerações de dentistas que se formaram nesses tempos. Os jovens dentistas, esses na maior parte dos casos trabalham por percentagens muito modestas em clínicas de dentistas mais experientes, ou de grandes grupos de saúde. A tendência, aliás, é das percentagens baixarem, pelo que cada vez mais se assiste à emigração dos recém-formados.
Ainda assim, não vou ficar aqui a queixar-me: a profissão está saudável e económicamente viável. Dá para a praticar e levar uma vida confortável. Mas quem julgar que vai fazer fortuna a tratar de dentes, vai ficar muito desapontado.
A segunda razão é eminentemente prática: um familiar próximo, normalmente o pai ou a mãe ou um avô, são dentistas e têm um consultório. A pessoa em questão cresce a acompanhar o trabalho e ganha o gosto pela profissão – é uma profissão que facilmente desperta o interesse dos que a rodeiam – e tem a motivação de ter uma clínica onde trabalhar uma vez findado o curso, e potencialmente sua no futuro.
São raros os que têm esta sorte, mas normalmente são muito bem sucedidos; têm muito gosto e motivação na profissão, e embora com uma clínica venham muitas dores de cabeça e desafios de gestão, quando esta é bem tratada, também vem alguma segurança económica.
A terceira razão é vista com alguma aspereza entre a comunidade académica, ou pelo menos era em tempos: o aluno que não conseguiu entrar em medicina.
Na realidade, embora a Medicina Dentária seja uma especialidade muito sui generis, acredito que uma pessoa que não goste de ser Médico Dentista também não fosse gostar de ser qualquer outro tipo de médico, e vice-versa.
Consequentemente, apesar do estigma de “este está aqui porque não entrou em medicina”, acredito que quem entre por esta razão tenha tudo para ter uma carreira com muito sucesso e satisfação pessoal. Com uma ressalva: tem que se esforçar por encontrar a medicina no dia-a-dia clínico, em vez de seguir o caminho fácil e tornar-se apenas prático, um “consertador de dentes”. Dirão os melhores dentistas que é precisamente isto que os distingue: a capacidade de avaliar cada situação como uma pessoa a ser curada, e não como um dente para ser arranjado.
E a verdadeira satisfação da profissão, digo eu, está na união de ambas as coisas: o raciocínio eminentemente cientifico que caracteriza o diagnóstico médico e a formação de um plano de tratamento, aliado à arte manual de manejar os instrumentos e materiais de forma a tratar e reconstruir os órgãos da cavidade oral. É uma medicina eminentemente prática, sem nunca deixar de ser teórica. É uma arte que depende igualmente da destreza mental como manual, e como tal será extremamente recompensadora a quem a ela dedique.
Luís Falcão de Magalhães
luis.falcao.magalhaes@gmail.com
































