Há uns meses, assisti a uma palestra de uma economista que estava a investigar um problema novo: a dependência cada vez maior nos peritos.
Ligando sensores à cabeça de pessoas enquanto estes estavam a ouvir peritos falar, cada qual sobre a área em que era especialista, a palestrante conseguiu fazer uma experiência em que media a atividade das várias partes do cérebro.
O resultado foi chocante: a porção do cérebro responsável pelas decisões apagou, desligou-se, parou de funcionar durante o discurso dos peritos.
Para me tornar dentista – e um dentista não é senão um perito na medicina da cavidade oral – passei muitos anos a estudar e a praticar. Hoje, ao olhar para uma boca, sei observar muitas coisas que passariam despercebidas a outros, sei porque é que essas coisas acontecem, e o que significam, e como podem evoluir.
Tenho confiança na minha capacidade de fazer um diagnóstico e propor uma solução para um problema, e tento transmitir essa confiança aos meus pacientes.
Mas ainda assim, surpreende-me a quantidade de pessoas que me diz: “Faça o que entender melhor, doutor”.
A maioria das pessoas nem sequer se procura informar mais acerca da sua situação. Muitas vezes pergunto se a pessoa precisa de algum esclarecimento, se tem dúvidas, mas raramente me é feita alguma pergunta.
Embora aprecie a confiança que as pessoas depositam em mim, e faça por estar à altura, a minha função – e a de qualquer perito honesto – é a de transmitir a melhor informação possível, e propor um leque de soluções, não de tomar decisões pelas outras pessoas.
Qualquer tratamento é uma colaboração entre o médico e o paciente. O médico saber o que está a fazer é apenas uma peça do puzzle. O paciente tem o direito de saber quais as causas do problema, quais os prós e contras do tratamento e quais os tratamentos alternativos, se existirem (e existem quase sempre).
O bom médico é também um pouco professor, pois consegue transmitir esta informação ao seu paciente, de um forma que este a entenda.
E o paciente, ao receber esta informação, tem a possibilidade, e eu diria mesmo a responsabilidade, de se tornar um participante ativo no seu tratamento.
Pois um paciente informado é um paciente que sabe quais os bons comportamentos a adoptar, e quais os maus comportamentos a evitar. É um paciente que sabe quais os riscos que corre ao decidir fazer ou deixar de fazer um tratamento. É um paciente que está no lugar do condutor em relação à sua saúde, em vez de ser um mero passageiro.
Assim, o que eu sugiro aos leitores não é que questionem as capacidades dos peritos – na medicina dentária ou em outras áreas – mas sim que desenvolvam uma sede de conhecimento, uma vontade de encontrar informação, com o apoio desses mesmos peritos. Busquem aqueles que convosco partilham informação.
Nem todos podemos ser peritos na área da saúde oral, mas todos podemos entender um pouco mais acerca de saúde oral. Esta coluna é o meu pequeno contributo para que isso aconteça. Espero poder contar convosco ao longo das próximas publicações.
Luís Falcão de Magalhães
luis.falcao.magalhaes@gmail.com
Segredos da Saúde Oral – O direito à informação
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