Joana Beato Ribeiro
IHC-NOVA-FCSH; CEHFCi-UÉ; PH
Bolseira de doutoramento FCT
A história do termalismo é particularmente importante para os caldenses, talvez até merecesse mais atenção, ou não fossem as águas o mote para a cidade que todos apreciamos. Durante o século XX, Fernando da Silva Correia foi um dos intelectuais que mais escreveu sobre esta temática, na sua relação com as Caldas e sobre o impacto da ação da rainha D. Leonor.
Em 1922, publicou um primeiro trabalho intitulado “Guia prático das águas minero-medicinais portuguesas”, prefaciado pelo químico Charles Lepierre. Seguindo-se o artigo hoje em destaque, “Um balneário português do século XV”, publicado numa fase de maior consolidação da experiência em Hidrologia – especialização concluída no Instituto de Hidrologia (Lisboa) em 1921 – ao fazer o acompanhamento dos internados no Hospital termal e com a direção das obras de reabilitação do Balneário das Águas Santas, cuja reabertura sucedeu precisamente em maio de 1928. Assim, é fácil adivinhar que hoje se antecipa a costumada e efusiva reabertura da época termal.
Este pequeno artigo foi publicado pela Imprensa da Universidade de Coimbra, em 1928, na revista científica e literária “O Instituto”, sendo introduzido noutra publicação a destacar no próximo mês. O seu conteúdo foi apresentado, em 1925, no Congresso Luso-Espanhol para o Avanço das Ciências. Ambos, revista e congresso, altamente impulsionados pelo filósofo Joaquim de Carvalho, que considerou o texto “confuso – mas não obstante recheado de erudição”.
O autor “quis trazer um modesto subsídio para a história da Medicina” e “da hidrologia médica portuguesa”, tendo como principal referência a obra de Jorge de S. Paulo. Ocupa-se do “balneário das Caldas” através do 1) enquadramento das termas locais; 2) registo da visita da rainha D. Leonor, início da construção e redação do “Compromisso” (1512) e 3) descrição do “primitivo Hospital”. Descrição essa que deu origem ao desenho de Eduardo Elias (filho), sobejamente conhecido, ilustrativo da fachada em 1747 e do interior “bastante complicado” pela agregação de várias casas irregulares entre si, que garantiam a assistência (física e espiritual) para pobres, doentes e peregrinos. Fernando da Silva Correia é também minucioso na identificação das competências do provedor e do físico, pelo que é possível conhecer o processo da “cura”. O paciente apresentava-se para a “consulta de entrada”, às 15h, entre abril e setembro e, caso fosse admitido, permanecia 24 dias no hospital: um “para confissão e comunhão”; cinco para “xaropes”; um “de purga”; quatro dias entre esta e os “banhos” que demoravam três dias e, por fim, quatro dias de convalescença. Em todos eles recebia, por volta das 6h, a visita do médico, que podia prescrever algumas alterações ao tratamento. Após a alta, devia conservar o “regimento de cura”, sendo aconselhado a não se expor a condições adversas ou “trabalhos violentos”. Por esta altura, eram curados anualmente c. 600 doentes. ■

































