Esta semana falámos sobre o III Congresso Nacional de Formadores com Nuno Queiroz de Andrade, formador do Gabinae e Presidente da Associação Profissional de Formadores. O congresso realizou-se no dia 19 de outubro, no Fórum Picoas, em Lisboa.
Sabrina Ribeiro (Gabinae): Desde a primeira hora, o Nuno esteve envolvido na preparação e realização do III Congresso Nacional de Formadores. Hoje, que avaliação faz dos trabalhos do Congresso?
Nuno Queiroz de Andrade (NQA): Os trabalhos decorreram num clima de abertura, diálogo e partilha entre os oradores convidados e os congressistas, formadores e responsáveis de formação. Tínhamos cerca de 100 participantes inscritos e 15 oradores. Os diversos debates estiveram centrados no contributo da formação para o progresso das pessoas, das organizações e do país.
Gabinae: Que conclusões foram produzidas no Congresso?
NQA: Dos diversos debates, destacam-se três conclusões que mereceram o consenso da generalidade dos participantes. A primeira conclusão diz que a profissão de formador está a atravessar um período de intensa e profunda evolução. O novo formador não restringe o seu trabalho a uma sala de formação, mas integra uma diversidade de outras formas, processos, meios e tecnologias capazes de promover aprendizagens.
Gabinae: Mas no Congresso falou-se só de formadores?
NQA: Não. Falou-se de um conjunto de aspetos relativos à formação. Talvez a ideia mais referida é a de que uma estratégia de desenvolvimento do país deve incluir a formação e o trabalho do formador como uma das mais poderosas forças para construir um futuro sustentável para todos.
Gabinae: Houve questões ou temas polémicos?
NQA: Houve um debate intenso sobre a necessidade de os profissionais da formação divulgarem mais e melhor os resultados do seu trabalho enquanto agentes de mudança. Os formadores e os responsáveis pela formação, aos mais diversos níveis e nos variados âmbitos, precisam de explicar e demonstrar o papel e o contributo da formação. Esse trabalho está quase todo por fazer, nas empresas e no país. E veja o que se está a perder: a formação e o formador devem entregar resultados de mudança e melhoria, das pessoas e das empresas. É toda uma fonte de enriquecimento que é pouco conhecida.
Gabinae: O Gabinae esteve presente a acompanhar os trabalhos do Congresso e verificámos que se falou muito de política de formação, mas este é um tema de que raramente se fala.
NQA: É verdade. Fala-se muito pouco desse tema. No congresso falámos de políticas de formação porque a Associação Profissional de Formadores publicou, há quatro meses, um documento com propostas políticas para impulsionar a formação.
Gabinae: O que diz esse documento para despertar tanto interesse?
NQA: O documento defende algumas propostas inéditas e mesmo ousadas. A proposta mais inovador é a de que as políticas públicas de formação passem a ser geridas pelo Ministério da Economia para estarem orientadas para a promoção do desenvolvimento do país. Hoje, as políticas de formação têm uma orientação apenas assistencialista, dirigidas para os desempregados e o ensino profissional. Mas não contribuem diretamente para o progresso e o desenvolvimento do país.
Gabinae: E no congresso foram debatidos esses aspetos?
NQA: Sim, mas, principalmente, foi referido, por diversos oradores e participantes, que é urgente desburocratizar, simplificar e actualizar a legislação existente. Legislação atual é incoerente, contraditório e redundante, impondo às empresas e às pessoas uma pesada carga burocrática e administrativa que retira tempo e energias para o mais importante: dirigir o esforço para resultados de mudança.
Gabinae: Como se pode fazer essa mudança?
NQA: Rever a legislação. E rever as funções dos organismos públicos que lidam com a formação, como o IEFP, a DGERT, ANQEP, Programas Operacionais, etc. Vários destes organismos deveriam ser extintos, fundidos ou reformulados.



































