As mais de sete décadas que o professor Marcelo Rebelo de Sousa carrega parece não lhe serem pesadas para a agenda intensa e sempre presente do actual Presidente da República, que não se exime a pronunciar-se sobre a maioria dos assuntos que pairam sobre o país e o mundo.
Quando terminar o seu primeiro ano de mandato, o professor Marcelo, tal como o superfutebolista Cristiano Ronaldo, devem ter batido todos os recordes de golos, intervenções, prémios, quilómetros, discursos, comentários, que Portugal já viu.
O ritmo do Presidente da República e a abrangência das suas intervenções, correndo incessantemente de Seca para Meca, impressionam os portugueses, que estavam habituados ao estilo soturno e seco do seu antecessor (o qual parece não gostar do estilo do actual).
Nem a origem partidária nem a origem social de ambos consegue explicar atitudes tão diversas e contraditórias.
De qualquer forma, a inteligência e o génio de Marcelo, mesclado com instintos políticos de um radicalismo juvenil (lembrado por muitos dos que acompanharam a sua trajectória política) prova que os portugueses estão a gostar do seu mandato e das suas investidas pelos problemas que vão despontando.
Talvez o grande beneficiário de tudo isto (para além dos portugueses que vivem uma calmaria social que não conheciam há muito) seja o próprio primeiro-ministro António Costa (que foi também aluno do professor Marcelo na Faculdade de Direito de Lisboa).
Parece, pois, que está tudo a dar certo no tocante às graves questões económico-financeiras e sociais que marcaram Portugal nos quatro anos da troika, sobrando as disfunções ocorridas nos últimos meses, especialmente ligadas aos incêndios e ao roubo de arsenal militar em Tancos. A pedagogia de Marcelo tem aliviado tensões que noutras condições se agravariam bastante se o país tivesse o antecessor de Marcelo em Belém.

O mundo está cada vez mais estranho e não pára de surpreender Zé Povinho com todo o género de protagonistas que emergem, alguns dos quais dificilmente teriam palco em anos passados. Mas também velhos actores, que pareciam estar já desligados da acção política activa, reemergem, por vezes, com afirmações que deixam estupefactos o mais calmo observador.
Em Portugal o discurso ensaiado pelo anterior Presidente da República, professor Cavaco Silva, numa iniciativa partidária dos jovens socia-democratas, foi o “fait-divers” que cortou a “silly season”.
Para além de um ataque mais ideológico aos seus arqui-adversários da esquerda, que numa iniciativa daquela jaez qualquer observador pode achar natural, o ex-Presidente indirectamente dirige-se ao seu sucessor com uma catilinária inesperada, onde invoca o Presidente francês recém eleito (e nos últimos tempos em queda abrupta de popularidade), Emanuel Macron, sobre as regras que impôs aos jornalistas, dizendo que “em França não passa pela cabeça de ninguém um Presidente telefonar a um jornalista para lhe passar uma notícia”.
O professor Cavaco acrescentou ainda que esta “estratégia contrasta com verborreia frenética da maioria dos políticos dos nossos dias embora não digam nada de relevante”. Como diria o próprio professor Marcelo nas suas antigas crónicas dominicais da TVI, qualquer careca sabia quem era o alvo.
Não ficou bem o anterior Presidente, que ainda para mais saiu de Belém com as mais baixas taxas de simpatia do cargo que desempenhou, contrastando com a tendência inversa que o professor Marcelo beneficia.
Ficou, pois, Cavaco Silva mal na fotografia, até porque a grande maioria dos portugueses ficou insensível à sua ácida e desagradável verborreia.

































