Nos últimos tempos, especialmente neste ano, a animação cultural e económica (representada pelo reaparecimento da Feira da Fruta) nas Caldas da Rainha tem permitido à cidade e ao concelho terem um eco mediático maior que em anos anteriores, levando os caldenses a acreditar na sua cidade (mesmo sem terem as termas a funcionar).
O lançamento simultâneo de várias iniciativas da Molda Cidade Cerâmica 2016 no passado fim de semana foi um momento de reencontrar Caldas com o seu passado mais recente e mostrar o potencial escondido que existe e que os caldenses e as suas lideranças teimaram em esquecer durante tantos anos.
Se há algo que identifica Caldas da Rainha para além das suas termas, é a cerâmica que marcou a sua história, especialmente depois do início do século XIX, com momentos altos na transição para o século XX, depois com a emergência do projecto Secla nos anos 50 e, finalmente, nos anos 80 em simultâneo com a adesão à CEE, com o aparecimento de duas instituições de formação e um museu dedicados a esta matéria e com o período de ouro da indústria na cidade e na região.
As mais recentes actividades resultam do esforço de inúmeras pessoas, algumas locais outras de outros pontos do país, mas de qualquer forma ligadas às Caldas por razões profissionais, académicas ou de interesse cultural.
O arranque destas iniciativas sob a égide do projecto Molda, deve-se especialmente à visão do caldense professor João Bonifácio Serra, que vê finalmente reconhecido o seu trabalho a nível local quando a nível nacional e internacional já viu superiormente reconhecidos os seus méritos e qualidades.
A sua carreira universitária e de investigador, bem como as funções que desempenhou na Presidência de Jorge Sampaio, como na Guimarães Capital Europeia da Cultura, suscitaram sempre alguma inveja e desvalorização fora do núcleo dos seus seguidores locais, que mesmo assim são bastantes.
Zé Povinho é um daqueles que vê sempre em João Bonifácio Serra uma afirmação de qualidade nos projectos em que se envolve e que promovem a cidade de uma forma coerente com a sua tradição e com o seu futuro.
José Manuel Vieira
O presidente da Câmara do Bombarral, José Manuel Vieira, tem andado mal acompanhado. Depois de ter recebido numa semana representantes da China e de Angola – dois países que são um “modelo” no que diz respeito à Democracia e aos direitos humanos! – o autarca abriu os braços na semana seguinte ao embaixador de uma das piores ditaduras do mundo – a Guiné Equatorial.
O pretexto foi o estudo do navegador português Fernão do Pó, que dá o nome ao agrupamento de escolas concelhio e que terá descoberto a ilha onde hoje se situa a capital da Guiné Equatorial.
Zé Povinho até entenderia tal aproximação se a visita tivesse sido de investigadores ou académicos daquele país (se é que existem e exercem o seu trabalho de forma livre) no âmbito de um estudo conjunto sobre Fernão do Pó.
Mas receber um representante directo do ditador Obiang, um personagem sinistro, considerado um dos 10 mais corruptos líderes mundiais, com uma fortuna avaliada em mais de 600 milhões de euros (num país onde 70% da população vive com 1,50 euros por dia) é coisa que o deveria fazer corar de vergonha, bem como à maioria dos bombarralenses. E mais ainda quando se lança num discurso em que refere que “ambos os países [Portugal e a Guiné Equatorial] devem partilhar das suas mais valias e permutar as suas riquezas”.
José Manuel Vieira, bem como o Dr. Emanuel Vilaça, director do Agrupamento de Escolas Fernão do Pó, perderam uma boa ocasião para, num exercício de elementar cidadania, referirem alguns dos valores democráticos que regem a República Portuguesa (que ambos supostamente representam) e de recordar ao moço de recados do ditador que o respeito pelos direitos humanos é um princípio base para se conseguir obter alguma consideração internacional.
Mas não. O presidente da Câmara do Bombarral prefere ignorar tudo o que é público sobre a sórdida ditadura da Guiné Equatorial e fazer-se fotografar ao lado de gente bem pouco recomendável.