Afinal, a areia… é água

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RuiGoncalves

Teve lugar no Inatel, na passada semana, às 11H00 da manhã de uma 3ª feira, a reunião “pública”, marcada pela Agência Portuguesa do Ambiente – APA, que se aguardava, para dar conta dos resultados da 1ª fase das dragagens da Lagoa, terminada há 3 meses e perspetivar a 2ª fase.

Pensarão alguns, lá vem este outra vez com a Lagoa. Pois, mas eu não desisto. É fundamental para a economia local e regional, se e quando estiver em estado decente. Imagino o turismo ambiental, paisagístico, náutico, gastronómico, etc… a constituírem-se como elementos importantes para a nossa economia. Sou assim, um sonhador.
Lá se fez a reunião dita “pública”, a hora imprópria, sem que ninguém a tenha publicitado ou divulgado. Será que é por acaso? Não, não é.
Como resultado da 1ª fase de dragagens, ficámos a saber que, aquilo que todos vemos, afinal, não vemos. Estamos enganados. A areia que vemos a mais do que antes das dragagens e que é confirmado pelos próprios praticantes de desportos náuticos, ou pelos mariscadores, é engano nosso. Diz o relatório e uma tal fotografia de satélite.
Perante aquilo que está à vista de todos, mais areia e menos água, fomos vários, os cidadãos a questionar os resultados da obra, nomeadamente sobre os erros de projeto e (ou) o incumprimento dos mesmos, por parte do empreiteiro. Que não, disseram os responsáveis da APA, que os projetos estavam corretos e a obra foi bem feita. Sobre o que está à vista, eles vêem uma coisa e nós vemos outra diferente. Não é uma questão de areia, é uma questão de visão.
Dizem os utilizadores da lagoa e todos sabemos, que ficou pior que antes, mas fica mesmo assim e se por acaso alguma coisa tiver que ser feita, será com novas intervenções pontuais, quando for necessário. Claro. Sentimo-nos enganados, mas isso é um problema nosso. E sobre isto, muitos acabaram por se render aos “encantos” do dito relatório e à oratória bafienta dos responsáveis da APA.
Mais, estava prevista a dragagem de 650.000 m3 de areia e até foram retirados cerca de 740.000 m3 (veja-se a generosidade), que custaram 3,5 milhões de euros. Só não foi avaliada, a areia que saiu e entrou diretamente na Lagoa.
Sobre a 2ª fase, que já não se iniciará este ano, como tinha sido anunciado, será para o final de 2017. Depois de várias deambulações sobre a forma como se processará a retirada dos dragados, até nisso tiveram dúvidas, lá foram dizendo que são de grau de contaminação 1 e 2, coisa que a Comissão das Linhas de Água questionou, como qualquer cidadão minimamente atento, mas que entretanto irão ser realizadas novas análises e se agirá em conformidade, disseram.
Ficou também a saber-se que na 2ª fase, está prevista a retirada de 850.000 m3 de dragados e que terá o custo de 16,5 milhões de euros.
Foi então tempo de sabermos, que aquela “regra de três simples” que aprendemos algures na 4ª classe antiga, afinal já não é assim, a matemática alterou-se entretanto.
Pensávamos nós que se 740.000 m3 custaram 3,5 milhões, 850.000 custariam pouco mais de 4 milhões. Mas pensamos mal. Custam 16,5 milhões, porque os dragados têm que secar e depois é preciso transportá-los para outro local e coisa e tal. O preço quadruplica, talvez pelo efeito do aumento dos combustíveis mais a inflação, digo eu. E como é que ninguém se lembrou desta evidência?
Mas a coisa é mesmo assim e pronto. Como até lá ainda vai haver, disseram, outra reunião “pública”, pode ser que tudo se esclareça.
Dá a sensação que fomos e estamos a ser enganados? Pois dá, mas é só impressão nossa.
O que é certo, é que são 20 milhões de euros que se vão gastar no total, e quanto ao resultado final, resta-nos aos crentes, confiar na Virgem, os outros têm que ter paciência.

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