Riscos psicossociais no trabalho

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2016-04-29 Primeira.inddDo ponto de vista psicológico, o trabalho ocupa boa parte da nossa vida mental e tem grande responsabilidade na forma como nos sentimos e no nosso bem-estar. Isto acontece desde o topo até à base e muito dificilmente alguém o pode negar. A questão é, entender o tipo de riscos que podem estar implicados no trabalho ou no ambiente laboral. Isto porque quando alguém está psicossocialmente em risco isso tem consequências no trabalho em si e em todas as esferas da nossa vida. Torna-se cada vez mais relevante que as empresas tomem contacto com as principais causas e manifestações de mal-estar por parte dos seus funcionários. Da mesma forma, é também útil que a empresa interceda no bem-estar das pessoas, percebendo em quê o seu modo de atuação e gestão de processos favorece ou não o seu bem-estar e, além disso, que tipo de manifestações de bem-estar ou mal-estar as mesmas pessoas apresentam. O trabalho de avaliação e gestão dos riscos psicossociais numa empresa ultrapassa em muito o trabalho clínico. É, sobretudo, uma intervenção em prol da qualidade de vida e, ao ser feito, evidencia a intenção clara da empresa em procurar garantir que faz o que está ao seu alcance para melhorar a forma como as pessoas que ali ocupam a maior parte do seu tempo se sentem. Nos últimos anos, vários países europeus, incluindo Portugal, têm investido na criação de instrumentos que avaliam o nível de riscos psicossociais no trabalho. O mais recente resultado disso é o COPSOQ II – Copenhagen Psychosocial Questionnaire – que abrange vários domínios do bem-estar (internos e externos à empresa ou ao trabalhador), como a perceção de justiça interna, a relação com chefias e com colegas, o ritmo requerido de trabalho, o nível de comprometimento para com o trabalho e organização, exigências emocionais e cognitivas da função, ou a previsibilidade das tarefas; e que avalia ainda rotinas de sono, níveis de ansiedade, depressão e burnout. O instrumento avalia ainda comportamentos no local de trabalho como bullying e assédio. Por ser bastante completo e abrangente, este instrumento tem reunido muitos adeptos no campo da psicologia do trabalho e das organizações em vários países. O grande desafio, após uma avaliação deste calibre, é o desenho de ações de melhoria a implementar e que resultam de um entendimento vasto da vivência e qualidade de vida dentro da empresa. Se, por um lado, é possível acedermos a questões específicas e identificar tipos de ajuda cirúrgicos e prementes, por outro lado, trata-se de um trabalho que pretende, acima de tudo, dotar a administração e chefias para a tomada de decisão e implementação de ações de melhoria bem fundamentadas.
Mara Correia
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