Requiem por um Hospital velho. Hino a um Hospital novo!

0
698

Na passada edição da Gazeta das Caldas, Edgar Ximenes assina um texto com o título “Requiem para um Hospital”, onde, numa análise crítica equilibrada do debate do dia 26 de Fevereiro, promovido pela Comissão de Utentes, defende o alargamento do Hospital das Caldas e a aposta no nosso hospital como unidade de qualidade de âmbito sub-regional (para uma população de 180.000 habitantes).
Concordo com várias das suas afirmações, nomeadamente quando critica a “rocambolesca história recente do novo hospital que estava para ser construído perto das Caldas da Rainha”, quando diz “que a solução de ampliação do actual hospital não seria a solução «óptima» mas poderia ter sido a «boa» e quando reconhece que há quem saiba muito mais destes assuntos do que ele.
Reiterando o que afirmei no próprio debate, considero um erro tornar a defender-se a ampliação do Hospital das Caldas. Noto que o novo Hospital tem mais defensores entre as pessoas com uma perspectiva técnica do assunto e o alargamento acolhe maiores simpatias entre os autarcas com pouca visão de futuro.
A ampliação já está (já deveria estar!) desde há muito ultrapassada. Fazia sentido, sim, há 25 anos! Passei toda a década de 90 na expectativa de que estaria para breve a segunda fase de ampliação do Hospital, que tinha sido aprovada ministerialmente em 1988! Se ela estivesse concluída em 1995, ou 2000 ou 2001, a história seria diferente. Agora não!
Lembro-me que, há meia dúzia de anos, o Gabinete de Planeamento dos Serviços Centrais de Saúde assumiu como a melhor solução técnica a construção dum novo Hospital. Houve reuniões técnicas em Caldas da Rainha, com os directores de serviços, para definir a sua missão assistencial: os departamentos, as especialidades, o número de camas (teria 230, no total), as salas de Bloco Operatório, os Cuidados Intensivos, etc.
Definido o perfil técnico, a decisão da sua construção e da sua localização ficaria então com os políticos.
A criação do CHON, juntando os Hospitais de Caldas da Rainha, Alcobaça e Peniche, aconteceu no pressuposto da construção dum novo Hospital.
Mas já antes a autarquia de Alcobaça tinha assumido uma atitude de antecipação: a compra de um terreno em Alfeizerão para a construção do Hospital. Mais perto das Caldas do que de Alcobaça, mas dentro dos limites desse concelho, como lhes convinha. Essa localização teria sido defendida por um estudo de 2007 do Prof. Daniel Bessa.
Seguiram-se disputas de autarcas e a localização do novo Hospital começou a pender para o concelho de Caldas da Rainha. Chegou a ser anunciada, como nova localização, a área de Tornada. Alcobaça reclamou e, a poucos meses de eleições legislativas, surgiu, por parte da Ministra da Saúde, uma decisão de algibeira, pretensamente “salomónica” mas tecnicamente delirante: a construção dum hospital novo, com 40 camas (nunca tal se viu!) em Alcobaça e a ampliação do Hospital das Caldas (mais 100 camas com um custo aproximado de 60 milhões de euros). Na verdade essa decisão contentou todas as clientelas e calou muitas vozes, nomeadamente os autarcas mais dados ao tacticismo político.
E assim renasceu, enviesadamente, a ideia da ampliação do Hospital das Caldas, à qual muitos se tornaram a agarrar. Mas sem razão de ser, sem conteúdo técnico!
Depois foi o que se sabe: a criação do Centro Hospitalar do Oeste e a redefinição dos serviços hospitalares da região, juntando e somando insuficiências.
Há alguma racionalidade em gastar muitas dezenas de milhões de euros na ampliação de uma estrutura velha, de mais de 50 anos, situada no centro da cidade, de acessibilidades difíceis? Não, nenhuma. Ficar com uma estrutura assimétrica, desarticulada e disfuncional, sem capacidade de resposta adequada, não é a forma mais racional de criar mais camas hospitalares, tão necessárias.
Requiem, sim, por ideias e estruturas velhas!
A população necessitada de melhores cuidados hospitalares não corresponde a 180.000, mas a 300.000 habitantes. E daí a necessidade de um Hospital com escala e dimensão para uma região.
Um hospital novo, porventura a meio dúzia de quilómetros de Caldas, diminuiria a empregabilidade das gentes da terra? Não. Diminuiria a importância da cidade? Não. Seria, antes, um factor de atracção de novos profissionais e um factor de desenvolvimento regional.
Cabe aos bons autarcas e aos bons políticos defenderem as boas ideias para as populações, para a sua cidade, para a sua região.
António Curado

- publicidade -