No passado dia 26 de fevereiro teve lugar, no auditório da ETEO, um debate com o sugestivo tema “A Crise nas Urgências e o Deficit de Cuidados Hospitalares Públicos”. Antes de mais, há que felicitar a Comissão de Utentes-Juntos pelo Nosso Hospital pela organização deste debate que, para além de muito oportuno, teve um elevado nível, entre outras razões, pela variedade e qualidade dos intervenientes. Coisas muito importantes foram ditas e é fundamental refletir sobre elas.
A chamada “crise das urgências hospitalares” que, sendo um problema sobejamente conhecido de quem tem necessidade de recorrer ao hospital das Caldas da Rainha, tem na verdade um âmbito nacional, é a face visível e mais mediática de uma crise muito maior que se tem vindo a abater sobre o Serviço Nacional de Saúde. Assim, é perfeitamente natural que no cerne do debate estivesse esta problemática. No entanto, o que mais me prendeu a atenção foram as questões relacionadas com o hospital de Caldas da Rainha, que já foi o mais importante hospital de uma vasta região que ia de Alcobaça a Torres Vedras e que agora é apenas a “unidade de Caldas da Rainha” do Centro Hospitalar do Oeste (CHO).
Foi defendido, certamente por quem sabe muito mais deste assunto do que eu (no plano técnico, naturalmente), que a solução é a construção de um grande e novo hospital no Oeste, por várias razões, nomeadamente por critérios de “racionalidade”. Registei e fiquei a pensar. Apesar de ser sensível ao critério da “racionalidade”, há neste argumento qualquer coisa que me causa uma grande apreensão.
Admitindo que um novo e grande hospital no Oeste seria a solução “ótima”, não deixa de me vir à cabeça a rocambolesca história recente do novo hospital que estava para ser construído perto das Caldas da Rainha. Uma ilusão que nos entreteve durante algum tempo e que teve pelo menos uma consequência: as já projetadas obras de ampliação do atual hospital deixaram de se fazer e, de então para cá, tem sido sempre a perder. Sei que a solução da ampliação do atual hospital não seria a solução “ótima”, mas poderia ter sido a “boa” pois afinal ficámos com menos do que tínhamos, o que é “péssimo”.
Curiosamente, no decorrer do debate ficámos a saber que o “putativo” Ministro da Saúde do futuro governo poderia estar entre os presentes no painel de convidados. Já nem são precisas eleições, são “favas contadas”…
A intervenção do Dr. Adalberto Campos Fernandes, da Escola Nacional de Saúde Pública – Universidade Nova de Lisboa, foi de grande nível mas, confesso, enquanto caldense deixou-me preocupado com o futuro do hospital que ainda temos em Caldas da Rainha. É que, apresentando-se já como defensor de um novo e grande hospital do Oeste, por razões de “racionalidade”, certamente não irá querer investir no que já existe!
Quando é que esse novo grande hospital do Oeste estaria a funcionar, daqui a 10, 15 anos? Ficaria próximo ou longe das Caldas da Rainha? Os profissionais seriam transferidos paral lá? É que, atualmente, o nosso Hospital é “apenas” o maior empregador das Caldas Rainha…
Provavelmente não estou a ver a coisa com “racionalidade”. Mas qual “racionalidade”? A que levou à constituição dos megas agrupamentos de escolas (essas aberrações organizacionais e pedagógicas), à concentração dos tribunais cada vez mais longe das populações? Afinal, não é em nome da “racionalização” de custos que o Serviço Nacional de Saúde tem vindo a ser degradado e desmantelado?
Não ponho em causa a competência e a presumível boa-fé de quem defende convictamente um novo hospital para a região Oeste. Mas cada vez tenho mais reservas relativamente às abordagens que olham para o território como se este fosse um deserto, ou pior, como se fosse um terreno de jogos do tipo “SIMS City”. No território do Oeste já existem pessoas, cidades, empresas, escolas e até, pasme-se, hospitais! Há que ter isso em conta. Caldas da Rainha existe e até tem um hospital que já foi o mais importante do Oeste. Isto não significa nada para quem decide a política de saúde?
Antes de se pensar em construir um novo e grande hospital para toda a região Oeste (sabe-se lá onde, quando e com que dinheiro), não devíamos lutar pela dissolução do CHO e voltar a apostar no nosso hospital como unidade de qualidade de âmbito sub-regional (para uma população de 180.000 habitantes)?
Edgar Ximenes
































