QUO VADIS… CALDAS? | Menos elitistas, mais realistas

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Gonçalves

Escrevi há um ano e meio, neste espaço: “…. Temos então, vários artistas de enorme qualidade, intérpretes da chamada “cerâmica de autor”, muitos deles formados na escola do Cencal, outro marco fundamental da “cidade da cerâmica”, que fazem pela vida, exclusivamente por si e levam o nome de Caldas da Rainha às mais diversas paragens. E aqui começa a interrogação. O que é que tem sido feito por estes artistas? Que se saiba e na prática, pouco ou nada.

Por exemplo, para quem pretende ser uma “cidade de cerâmica” e deve haver unanimidade neste desígnio, o que se diz a um visitante recém-chegado? Que tipo de informação existe e lhe é prestada? Onde está essa informação?”.
Sobre a tal “cidade de cerâmica”, não se diz nada, porque de facto, não existe nada para dizer. E era expectável, com o decorrer da chamada “Festa (?) da Cerâmica”, que alguma coisa de concreto nos fizesse sentir que estamos de facto numa cidade de cerâmica e que há a tal “Festa…”.
Com um orçamento de um milhão de euros, totalmente suportados pela Câmara Municipal, porque a possibilidade inicialmente anunciada de ser financiada a 50% por fundos comunitários, já se deixou fugir e a repartir entre 2016 e 2020 e com cerca de 270.000,00 € já gastos no primeiro ano, sem que o programa anunciado esteja totalmente cumprido, não é possível deixar esquecidos aqueles que de facto, são os reais e verdadeiros protagonistas da “cidade de cerâmica”. Os ceramistas a que me referi há um ano e meio e hoje.
Ter uma Festa da Cerâmica, ou um Museu da Cerâmica e ser membro da Associação das Cidades de Cerâmica, não basta, é preciso mostrar que somos.
Exposições, livros, catálogos, palestras, brochuras, conferências, podem contar o que foi no passado, a cerâmica na cidade, mas não relatam aquilo que efetivamente é no presente. E se o tratamento do passado, pode fazer sentido, deve ter uma dimensão estritamente residual e complementar ao investimento que deve ser feito, esse sim, a dar ênfase aos ceramistas do presente. Sejamos menos elitistas e mais realistas.
Os grandes artistas do passado, fazem a história e são muitas vezes inspiradores dos contemporâneos, mas é para o presente e para a forma de preparar e garantir o futuro, que importa direcionar estratégias e acima de tudo recursos financeiros, que urge encarar como forma de serem rentabilizados, porque é assim que a gestão pública deve ser encarada. Um gasto é uma coisa, um investimento é outra coisa.
Um local onde possam ser exibidas em conjunto e comercializadas as “obras” dos intérpretes da “cerâmica de autor”, que existem em quantidade e acima de tudo em qualidade assinalável, com um espaço onde possam exibir ao “vivo” e em simultâneo, a sua arte, deve ser criado no âmbito da tal “Festa da Cerâmica”. Com uma percentagem das vendas a reverter para a gestão e como forma de garantir a sua sustentabilidade, estarão criadas as condições para um projecto que perdure no futuro, ao contrário de iniciativas efémeras, onde os recursos se esgotam, sem que algo marque a verdadeira e atual “cidade de cerâmica”.
Por outro lado, num momento em que as chamadas “rotas” estão em voga e se multiplicam, impõe-se a divulgação dos variados “ateliers”, onde os verdadeiros artistas desenvolvem a sua arte, por sua exclusiva conta e risco.
Não creio que este investimento ultrapasse um décimo do orçamento global da chamada “Festa da Cerâmica”, fica para o futuro e faria muito mais pela cerâmica e pela “festa”, do que todas as exposições, livros, catálogos, palestras, brochuras, conferências, que fazem o gáudio de alguns, mas com o desconhecimento e principalmente a indiferença de muitos.
E não, não é possível esquecer as fábricas ainda existentes, que ultrapassaram como um autêntico milagre, a hecatombe que se abateu sobre a indústria cerâmica e que são exemplos vivos do que foi então a cidade e acima de tudo, o que são gestores a quem a cidade deve a manutenção da memória, numa vertente diferente da atual.
Enaltecer o presente, preparando o futuro, impõe-se.

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1 COMENTÁRIO

  1. Je suis d accord avec vous. Je rencontre quelques-uns des céramistes de Caldas da Rainha pour le guide de la ville que j écris en français. Pour que leur teavail et leur talent soit reconnu, il faudrait qu’il soit connu des Caldenses mais aussi de tous les visiteurs de la région. A mon sens, une vitrine active de la Céramique, un centre des Artistes actuels, au centre des Arts serait une bonne idée. Cela peut être financé en partie par la ville, en partie par des fonds régionaux, nationaux et internationaux mais aussi par des fonds privés comme le groupe Visabeira qui pourrait aider la ville et ses céramistes. Ensuite, une fois ce centre créé, il faudrait 1 ou 2 personnes pour dynamiser le projet et le faire connaître et grandir. Les échanges pourraient se développer et tout le monde y gagnerait.