Fluxos de trânsito, ciclovias, estacionamento, zonas pedonais, transportes públicos, impactos ambientais, nomeadamente a poluição atmosférica e sonora, sinalética, centros urbanos libertos de trânsito, barreiras urbanísticas e arquitetónicas, etc… são algumas temáticas diretamente relacionadas com a “mobilidade urbana”, cuja “semana” se inicia hoje e decorre até dia 22.
É normal nesta denominada “semana da Mobilidade Urbana”, organizarem-se iniciativas decorativas, sem sustentabilidade e como tal sem consequência, que visam apenas iludir os cidadãos, sabendo-se de antemão que posteriormente, nada acontece.
A mobilidade urbana, não se constitui como um propósito em si, é antes o resultado da interação das deslocações de pessoas e mercadorias no espaço urbano.
Sobre esta matéria, tivemos há muito pouco tempo em Caldas da Rainha, um processo dito de “Regeneração Urbana”, com um custo de 10 milhões de euros, que decorreu com os atrasos, alterações e inúmeras trapalhadas, que todos conhecemos e cujas consequências ainda estão em avaliação, mas que irão custar muitos milhares de euros ao Município.
Quanto à Mobilidade Urbana, foi uma oportunidade única e literalmente desperdiçada.
Os fluxos de trânsito e quanto a entradas e saídas da cidade, aquelas que eram há 60 anos consideradas as principais vias de atravessamento, hoje continuam a sê-lo, como se entretanto nada tivesse acontecido. A Praça da República para quem entra a sul e se dirige para norte, ou a Rua Heróis da Grande Guerra, no sentido inverso, à luz de muitas mentes, continuam a exercer essas funções. Tudo na mesma 60 anos depois, porque nada se quis, nem quer mudar e tudo era possível mudar.
Dez milhões depois, nada mudou.
Em matéria de estacionamento, à exceção do “parque” da Praça 25 de Abril e da drástica redução de lugares à superfície, continua com a mesma anarquia e sem normas que regulem o estacionamento temporário, cuja promessa faz sempre de conta que vai, mas nunca vai, ou que se tenha pensado na criação de “parques periféricos”, com a promoção do “park-and-ride”, sistema que alia o estacionamento nas periferias com o transporte público gratuito, como meio de deslocação para o centro da cidade, “parques de proximidade” e “parques centrais”, porque não há capacidade de decisão, nem existe visão para perceber e copiar o que se faz em cidades minimamente evoluídas.
Dez milhões depois, nada mudou.
Se falarmos de “barreiras arquitectonicas”, encontramos por toda a cidade, armários de infraestruturas, abrigos de transportes coletivos, árvores, bancos, ausência de passeios ou passeios subdimensionados, floreiras, bocas de incêndio, pilaretes, cabines telefónicas, candeeiros, contentores de lixo, “mupis”, papeleiras, pavimentos degradados, estacionamento abusivo em passeios, etc…, em alguns casos mesmo na zona de intervenção da tal suposta “regeneração urbana”, que são um constrangimento à “mobilidade”, não apenas dos cidadãos com mobilidade reduzida, mas à generalidade dos peões.
Libertar o centro da cidade do trânsito automóvel, como se faz nas cidades minimamente evoluídas e devolver as “praças” aos peões, como forma de progressão da qualidade de vida dos cidadãos, é uma miragem, apesar das propostas da oposição, que foram feitas nesse sentido.
Dez milhões depois, nada mudou.
Valerá a pena falar na ausência de ciclovias, essa “coisa” estranha, tão elementar nos tempos que correm em qualquer cidade?
Dez milhões depois, nem uma ciclovia.
Comemorar a “semana da mobilidade urbana” por cá, de facto não faz sentido, porque não existe uma estratégia, não há visão, não há vontade política, nem tão pouco se sabe o que isso é.
Não vale a pena, porque dez milhões depois…, tudo ficou como antes.
Mas um dia, este estado de decadência, vai ter que mudar vai, porque Caldas da Rainha merece progresso.

































