O Festival Literário – Folio, em Óbidos e o festival de Jazz “Caldas Nice Jazz” em Caldas da Rainha são, em minha opinião, com as devidas diferenças conceptuais e impactos, os expoentes máximos da programação cultural anual de cada um dos municípios. Obviamente com orçamentos incomparavelmente diferentes, pela forma como são programados e organizados, constituem-se já como eventos que assumem alguma dimensão.
Terminado o Folio, atrevo-me a dizer, que Óbidos deu o passo maior que a perna e quando assim é, pode dar azo a “lesões”, por vezes difíceis de sarar. Isto porque a programação quis oferecer demasiados eventos para o espaço e para o tempo, que levaram a sistemáticas sobreposições de horários, a mudanças de locais de alguns desses eventos, por excessivo número de pessoas interessadas em assistir e mesmo falhas de organização que eram escusadas.
O Folio terminou após dez dias de intensa programação e começou o Caldas Nice Jazz, que se prolonga durante cerca de um mês, em cujo programa se percebe, que nada tem de partilha com Óbidos.
Tal como nas edições anteriores, continua a prevalecer a lógica, sem lógica nenhuma, segundo a qual, este festival é meu e aquele festival é teu.
Enfim, pensamentos pequenininhos e parolices.
Todos sabemos que Caldas da Rainha tem instalações ideais, como por exemplo o CCC, onde alguns dos esgotadíssimos eventos do Folio, teriam melhor acolhimento. Também é fácil perceber que Óbidos se constitui como uma “marca” no panorama cultural nacional, com capacidade de atração, que Caldas da Rainha não é. Não custa imaginar que se em vez de cada um ter o seu evento, os dois fossem organizados em conjunto, a população em geral e o comércio em particular, teriam motivos de atração e seriam dinamizados por mais tempo. Por outro lado, a conjugação das duas organizações criava sinergias, que no capítulo financeiro traria vantagens evidentes para ambos os festivais e municípios. Também me parece com alguma evidência, que os subsídios do “Turismo do Centro” e do “Portugal 2020”, seriam potenciados, se essa conjugação organizativa tivesse acontecido.
Com essa organização conjunta, era evidente que todos ficavam a ganhar.
Tudo isto parece claro para o comum dos mortais, mas não para todos.
Os autarcas de ambos os municípios não percebem estas evidências, trata-se enfim de uma visão umbilical / pessoal, em vez de uma visão moderna e capacidade para perceber que estamos na época do desenvolvimento e os territórios já não se gerem como se fossem capelinhas, mas de forma integrada e com dimensão regional e quando as vistas são curtas, são os municípios, ou sejam, os munícipes que são prejudicados. É bom que se vá percebendo isto.
Quando durante a campanha eleitoral das últimas eleições autárquicas, os dois presidentes se apresentaram em plena Lagoa a passear de bateira, desconfiámos das reais intenções e agora, três anos depois, confirma-se que de facto o objetivo foi ludibriar o eleitorado.
Mas já este ano, ocorreu mesmo uma cimeira entre os executivos dos dois municípios, supostamente para tratar exatamente deste tipo de interesses comuns. Mas como agora mais uma vez se confirma, não trataram de coisa nenhuma. Uma de duas, ou porque não sabem, ou, ainda mais grave, porque não querem. É que esta coisa de repartir os louros custa a engolir, a certas mentalidades obsoletas e pouco abertas à evolução.
Entre o passeio de bateira e a cimeira, nada aconteceu, como depois, aconteceu uma mão cheia de nada.
Claro que daqui a um ano, de novo em plena campanha eleitoral, se preparam para tirar um coelho da cartola e vir criar um novo engodo. Mas com vistas tão curtinhas, Caldas e Óbidos continuarão de costas voltadas, com graves e irreparáveis prejuízos para o desenvolvimento de ambos.
Perde o “Folio” e perde o “Caldas Nice Jazz”, em suma, perdemos todos, mas todos sabemos quem são os culpados.
À primeira todos caem, quatro anos depois, só cai quem quer.
QUO VADIS… CALDAS? – Da bateira… à cimeira
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