Em 2017 fui a São Paulo em trabalho e aproveitei para visitar a cidade. Ao passar pela avenida Paulista tive o azar de me cruzar com uma manifestação pró Temer acompanhada de um protesto anti Temer. Foi fácil entender qual era um dos maiores problemas do Brasil, a divisão, que tornava todos desconfiados de todos e em guerra uns contra os outros. Para mim era uma novidade ver algo assim, pois em Portugal não se sentia isso, não havia a mesma tensão e desconfiança no ar. Hoje fico triste ao verificar que existe a mesma divisão aqui, estamos divididos pela pandemia e por ideologias. Todos e cada um com a sua opinião polida e pronta para ser cuspida. Confesso que me custa ouvir o candidato do Chega a falar e é mais por vergonha do que por medo, porque com o seu discurso feito de chavões vazios, frases fáceis e costas largas protegidas sabe-se lá por quem, aproveita-se da boa vontade e da humildade de tantos portugueses para dar forma a uma campanha obscura, feita na sombra, com base no ódio e onde quem a investiga é ameaçado. Podemos sempre aprender com os erros dos outros e olhar para os casos de Donald Trump e Bolsonaro, porque as políticas são as mesmas. Não acredito em lições de moral, pois tenho verificado que acabam sempre por ter o efeito contrário ao esperado e por isso não sou a favor da negação de ideologias, proibir algo é fechar os olhos a essa questão e como disse o Marcelo Rebelo de Sousa no debate com a Ana Gomes, “ideias combatem-se com ideias” – mas para isso é preciso estarmos dispostos a ouvir e não ver partidos políticos da mesma forma que vemos clubes de futebol.
A responsabilidade da divisão actual deve-se em parte ao discurso intelectual e paternalista que a política tem usado num país que até há poucos anos ainda era analfabeto, mostram fluidez de raciocínio, a retórica preparada, mostram dados e estatísticas, mas no final revelam-se pouco humanos. A solução passa por atualizar a política e humanizá-la, porque a política atual feita do “bota abaixo” e de sorrisos de escárnio não encaixa numa sociedade onde se quer o bem de todos, por isso temos de encontrar um ponto de equilíbrio, uma forma de comunicar eficazmente para todos, ou seja, dar um passo atrás para ajudar tantos a dar um passo em frente. A política tem de representar todos, dar o corpo às balas, nem que para isso partidos rivais apertem as mãos para todos crescermos através do exemplo que transmitem. Por enquanto, infelizmente não resta outra hipótese que não a de muitos procurarem informação em programas da manhã e em páginas manhosas do Facebook. Espero que com o tempo se aprenda a questionar a informação que temos ao nosso dispor de forma a evitar a manipulação constante a que estamos expostos. No próximo dia 24 votem, mas votem em segurança. ■
Quem vota seus males espanta
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