O turismo cresce em Portugal, em número de visitantes, dormidas, viagens e consequentemente naquilo que é mais importante, em faturação. Tem crescido em todas as frentes, de forma assinalável. Porque existe uma estratégia, que vai muitíssimo para além do “sol e mar”.
Há muito que não é segredo, o turismo é uma alavanca fundamental no desenvolvimento de qualquer território, quando de forma estratégica e sustentável, se sabe tirar proveito dos seus recursos endógenos.
Vem isto a propósito de uma reportagem feita recentemente acerca do turismo na região centro e em concreto em Caldas da Rainha.
Diz-se que este ano tivemos mais turistas na cidade, fruto, segundo o responsável pelo pelouro do turismo, “da melhoria do espaço público, dos mercados “cria” e da animação” e ainda da “Feira do Cavalo e das tasquinhas”. Não vamos a questões de pormenor, mas dizer que os visitantes aumentaram pelas razões apontadas, não lembra a ninguém. Nem se lembrou, o responsável pela área, que o “turismo cultural” é uma vertente cada vez mais importante de atração de visitantes, principalmente quando de qualidade. Entroncamos aqui num erro elementar há muito debatido, relacionado com a distribuição de pelouros na Câmara Municipal, onde já se percebeu que as áreas têm “donos” intocáveis, mesmo que mal distribuídas.
Os diversos museus que a cidade tem, embora ninguém dê por eles é certo, assim como o “Festival de Jazz”, que está aí à porta e tem condições para se afirmar como uma marca da cidade, embora sem divulgação a condizer com a qualidade, foram olimpicamente ignorados pelo responsável pelo turismo. E porquê? Porque não são da sua responsabilidade. Estes são apenas alguns exemplos.
Para futuro, teremos a “Loja de turismo” na Praça da fruta, a Rota Bordaliana, e vão ser criadas as feiras da Cerâmica e da Fruta, acrescentou. E pronto, é isto.
Os vizinhos do lado, impõem-se pela qualidade dos seus eventos e nós, é o que temos.
Que estratégia para o turismo? Zero.
Em primeiro lugar, urge definir uma estratégia, que nunca existiu nem se vislumbra, que de forma sustentável, o afirme como uma verdadeira alavanca, da economia da cidade e do concelho. E só será sustentável, quando alicerçada nos recursos endógenos, com que felizmente a natureza nos presenteou. Estamos evidentemente, a falar do termalismo, da lagoa e da agricultura.
O termalismo foi, como todos sabemos, desprezado até ao ponto zero em que nos encontramos e que todos conhecemos, a aguardar ninguém sabe bem porquê, nem até quando. Muito menos se sabe o que fazer dele, quando o tivermos na nossa posse.
Quanto à lagoa, um concurso feito em Março, para a elaboração de um projeto de “Requalificação da Zona Marítimo / Lagunar da Foz do Arelho”, que poderá transformar a margem, dotando-a das condições necessárias para o desenvolvimento de diversas atividades turísticas, cujo potencial todos conhecemos, muito para além da banalidade do “sol e mar”, anda por aí perdido no tempo, a marinar, sem que se saiba qual o resultado.
Quanto à agricultura, foi aprovada há mais de um ano, uma proposta da oposição, que visava de forma clara, levar o turismo às freguesias rurais, integrando as várias componentes do mundo rural, uma riqueza tão diversificada como qualificada, que temos entre nós. Até hoje, nem um sinal, nada.
Disse na minha anterior crónica neste espaço, que:
“A filosofia subjacente à gestão autárquica, tem que mudar urgentemente e deve assentar numa perspetiva de dimensão territorial…”.
Pois bem, no turismo, a complementaridade resultante da dimensão interterritorial, é ainda mais evidente e enquanto insistirmos na mentalidade de dimensão diminuta, continuaremos a ser pequeninos, convencidos de que sozinhos vamos a algum lado.
Caldas da Rainha, perdeu há décadas o protagonismo regional que lhe coube por mérito e assim, enquanto os outros avançam, nós continuamos estagnados.
Rui Gonçalves
rgarquito@sapo.pt
Que estratégia para o turismo?
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