Pseudojornalismo

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Em nome da consideração e apreço que tenho por si e pelo jornal que dirige venho por este meio manifestar o meu profundo desagrado à atenção jornalística dada à corrida de toiros de 15 de Agosto último na edição de 24 de Agosto de 2018.
Regressado de uns dias de férias a primeira acção realizada foi a de ler a Gazeta das Caldas como é meu hábito semanal, mas desde logo fiquei tão indignado que o meu primeiro impulso foi de a deitar fora e cancelar a sua assinatura, pela afronta continuamente repetida. Depois acalmei um pouco e dediquei-me à leitura efetiva de todo o jornal, mas a revolta permanece e decidi escrever esta carta, pois como diz o povo “Quem não se sente não é filho de boa gente”.
É verdade que a mesma Gazeta publica uma crónica que tive o prazer de escrever sobre o mesmo espectáculo, devidamente publicada como espaço de opinião, mas tal não invalida a inexistência do verdadeiro trabalho jornalístico isento e rigoroso, nem a não cobertura de um evento cultural de massas na cidade por parte da redacção.
O que aconteceu foi que aproveitando o espaço “Gazeta dos animais”, desvirtuando-o em minha opinião, o jornalista Joel Ribeiro utiliza uma página inteira para facilitar a propaganda de um grupo de manifestantes anti-taurinos, quase sem trabalho de investigação e sobretudo sem exercício do contraditório pois só ouviu uma das partes dando a palavra a três dos cerca de duas dezenas de manifestantes ignorando totalmente os mais de três mil presentes na bancada enchendo totalmente a praça. Deste modo a Gazeta serviu de caixa-de-ressonância para um conjunto de chavões retirados da cartilha animalística dando-lhe um relevo que a sociedade não lhe reconhece.
Mas pior ainda é que a Gazeta das Caldas para lá da desproporção e parcialidade do tratamento dá-lhe honras de primeira página mesmo que entre aspas, algo inédito em relação aquela secção e que lhe amplia e muito o seu protagonismo. Deste modo a Gazeta transforma-se em órgão de propaganda de uma causa que usa a máxima hitleriana de que uma mentira muitas vezes repetida se torna uma verdade. Não só não foi isenta rigorosa e proporcional como é seu apanágio de 90 anos como se junta a uma causa fascista contrariando o sentido da Constituição da República Portuguesa, pois o fascismo é isto mesmo a tentativa de imposição pela força de uma opinião única em pleno totalitarismo cultural.
Se o jornalista e quem o dirige tem esta posição que a assuma em artigo de opinião, tem toda a legitimidade para tal, mas não se esconda por trás do trabalho jornalístico e da entrevista. Do mesmo modo aí se deveria dar a cobertura legítima da manifestação sem relevo exagerado.
Finalmente o pior de tudo é que isto já constitui um padrão a que a redacção da Gazeta nos habituou de ano para ano, ignora o espectáculo dá sempre espaço e atenção desproporcionais às manifestações e para dar algum equilíbrio tolera e publica as minhas modestas crónicas confinadas ao espaço curto do artigo de opinião.
Enquanto caldense, colaborador esporádico, leitor assíduo e assinante da Gazeta das Caldas, em nome das centenas senão milhares de leitores, assinantes, parceiros comerciais e anunciantes da Gazeta ( sua razão de ser) que frequentam a praça de toiros de Caldas da Rainha exijo uma outra isenção e respeito, assim não, basta chega que é de mais.

Rui José Nunes Lopes

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