Professor: Bem me quer, mal me quer…

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João Bernardes e Silva
professor

Numa entrevista ao Jornal de Notícias, em 09/01/2022, Maria Emília Brederode Santos, presidente do Conselho Nacional de Educação, perante o tema da falta de docentes, teceu alguns considerandos que me deixaram como marinheiro em dia de tempestade sem comandante ao leme. Exagero? Poderá ser. Mas classificar a falta de atração de candidatos a professores como um problema real e depois afirmar que “este verão constatei que havia muitos miúdos adolescentes no final do curso, no secundário, que queriam ir para professores e não sabiam como.” Fiquei mais descansado. Afinal, não há falta de interessados na profissão de professor, não sabem é como se orientar nos labirintos que levam à obtenção do grau de mestre em Ciências da Educação. A minha tranquilidade foi efémera. Em 03/02/2022, na Rádio Renascença, no âmbito da análise do Relatório do Conselho Nacional de Educação, surge a frase bombástica de que “nos próximos sete anos, a escola pública vai perder cerca de 20 mil professores que vão para a reforma e não vai ser fácil encontrar substitutos mais novos em número suficiente”. Afinal, o problema não está nos labirintos da formação.
A Presidente do CNE reforça a gravidade da situação ao afirmar que “é um grande problema, que tem de ser atacado muito rapidamente”. Numa perspetiva construtivista apresenta várias soluções. A saber: “para o 3.º ciclo e secundário, é permitir aos professores não se reformarem tão cedo”. Mais uma sugestão iluminada. Afinal, parece que as escolas estão repletas de docentes à beira da reforma e em pânico por terem de deixar a profissão. Adotem uma reforma legislativa que o permita e as escolas irão encher-se de professores de 70, 80 e, se ainda houver vagas, de 90 anos.
Ainda não ficamos por aqui. Luísa Loura, Diretora da PORDATA, perante um cenário de milhares de alunos sem docentes, admite a adoção de medidas de recurso, nomeadamente “permitir um maior peso de professores sem habilitação profissional no sistema; redução das horas de apoio ao estudo e aumento significativo do número de alunos por turma”. Pasme-se. Perante tão criativas medidas podemos descansar, o problema deixará de o ser.
Lamento a minha ironia, mas com tantos dislates não é possível colocar a discussão num tom suficientemente sério. Já começa a ser tarde, muito tarde. Não é tempo para experimentalismos e todos nós sabemos o que é preciso fazer. Haja coragem e valorizem de forma inequívoca os docentes que estão no ativo. Acabem com horários incompletos e com duração inferior a 12 meses.
São os professores que estão nas escolas que todos os dias lutam para que os nossos alunos tenham uma educação de qualidade. São estes professores que estão feridos no seu brio profissional e sujeitos a uma carreira em que não acreditam. Em tempos, ouvíamos falar na paixão pela educação, agora, nem num “date” se fala.
Os nossos alunos merecem mais, muito mais. Por isso, cuidem dos nossos professores, valorizando-os, para que no futuro não sejam apenas uma memória, um exemplo de vida que nos marcou e que lembramos com saudade. ■

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