Primeiro o S e depois o D

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Relativamente às chamadas questões sociais, nomeadamente aos casos de pobreza extrema, dependências e criminalidade associada, abusos e violência sobre os mais vulneráveis e problemas de discriminação e de exclusão no geral, as Caldas da Rainha são consideradas um pequeno pedaço do paraíso quando as comparamos com outros pontos do globo. Suspiramos de alívio quando vivemos nas Caldas e vemos as notícias sobre as favelas no Rio de Janeiro, mas isso é comparar o incomparável; alegramo-nos quando vemos que o desemprego nas Caldas não é tão grave como noutras cidades da região Oeste, mas isso é olhar apenas para uma parte do problema. Porém, viver numa comunidade e desconhecer os problemas sociais que nela se escondem não é nada de extraordinário. Diria até que, infelizmente, é natural que assim seja. Este tipo de situações tende a ficar escondido. Umas vezes por vergonha, como nalguns casos de pobreza, outras vezes por maldade, como nas situações de abusos sobre crianças, a verdade é que estas chagas sociais vão sobrevivendo nas sombras das nossas ruas, invisíveis aos olhos de quem passa.
Durante os anos em que estive na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens das Caldas da Rainha, percebi que a tal imagem paradisíaca que eu fazia da nossa cidade e concelho estava distorcida. Pude testemunhar o trabalho incansável e a entrega inexcedível da generalidade dos técnicos que, na área social, a Câmara se pode orgulhar de ter nos seus quadros. Mas também vi que o tal pedaço de paraíso estava polvilhado de pequenos infernos pessoais. É claro que as comparações permitem-nos perceber que as Caldas não são, a este nível, um “concelho-problema” mas não deixam de ser, é bom não esquecermos, um concelho com problemas. A área social é daquelas em que não podemos ficar satisfeitos enquanto houver uma pessoa a passar fome, um toxicodependente a pedir ajuda, enquanto se afunda num estado de degradação humana, ou uma única criança abusada ou maltratada. Enfim, os problemas sociais não devem nem podem ser utilizados pelo poder político para cantar vitórias mas antes, e sempre, para perceber o que ainda há por fazer.
A solução tem que passar por uma intervenção global e interdisciplinar. O trabalho em rede é aqui, porventura até mais do que noutros casos, essencial. Uma autarquia não consegue, sozinha, resolver o problema todo. Pode e deve, quando necessário, ir “oferecendo o peixe” mas isso não basta. A intervenção que se pretende não pode limitar-se a esconder os sintomas. Tem de atacar a doença. Tem de “ensinar a pescar”. Uma autarquia deve, isso sim, liderar as forças vivas da comunidade para, juntos, conseguirem fazer mais e melhor. Deve também saber captar todos os instrumentos disponibilizados pelo poder central para colmatar todas as insuficiências. O PSD, que tem exercido, quase ininterruptamente, o poder autárquico nas Caldas desde a instauração da democracia, pode gabar-se do mérito que tem quando verificamos que as Caldas estão melhores que outras cidades de dimensão idêntica; mas também tem de sentir que ainda há (e sempre haverá) trabalho a fazer, o qual tem de ser encarado como uma prioridade.
Como social-democrata por convicção, nunca esqueço que o S vem antes do D.

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