José Ribeiro
Professor de Políticas Públicas
A ciência, enquanto possibilidade de conhecermos e compreendermos a realidade, é, na sua essência, autocorretiva: havendo uma hipótese cabe ao investigador desenvolver ideias para contrariar essa mesma hipótese. A falsificabilidade de Popper é uma qualidade essencial na hipótese científica. Os tempos atuais não estão fáceis para a ciência, nem para a autocorreção, confunde-se liberdade de opinião com verdade (lembremos o “Covid”: tantos virologistas, biólogos, especialistas em DNA, RNA e vacinas nas redes sociais, jornais e televisões a opinar e a “achar”, desconhecendo que o próprio Lineu teria muitas dificuldades para classificar os vírus, acaso soubesse da sua existência). Nas ciências políticas acontece o mesmo. Mais ainda, pois que a opinião legitima-se enquanto ato de cidadania, é-lhe inerente.
E está tudo certo, mas sabendo dos riscos para a democracia e para o nosso modelo de estado (facto testemunhável em países como a Hungria) urge percebermos porque crescem os partidos da extrema-direita, recorrendo ao que se tem estudado e pensado acerca deste fenómeno em crescendo mundial, para não ficarmos limitados às opiniões e ao “achismo”. É possível destacar um conjunto de causas/fatores comuns em vários estudos que poderão explicar a exponenciação do populismo nacionalista (uma de várias designações para o mesmo fenómeno), a saber:
1) A condescendência altiva dos partidos, políticos e demais atores relativamente aos apoiantes e votantes na extrema-direita, que muitas vezes é insultuosa (ver Hilary Clinton nas eleições de 2016), este tem sido um dos erros crassos apontados na literatura: presumir que todos os eleitores de partidos populistas são necessariamente ignorantes e que compartilham as visões antipluralistas dos líderes populista, o que revela a natureza elitista das democracias liberais, distanciando-se do “povo” e fomentando o seu afastamento.
2) Receio de uma transformação étnica radical face ao aumento da emigração. É sabido, e já o mencionamos nestes artigos, a forma hábil como os populistas manipulam as emoções, elevando os níveis de desconfiança em relação às instituições e aos políticos em geral, retratados como desconhecedores desta “realidade”, ou pior, promotores da mesma.
3) Efeitos da economia global neoliberal. Os sentimentos de perda de qualidade de vida, de poder de compra e de insegurança em relação ao futuro, têm influenciado as pessoas a optarem pelas soluções populistas.
4) Finalmente, a perda dos laços entre os partidos tradicionais e o povo, relacionado com o primeiro fator apontado, o elitismo da classe política, a volatilização e a fragmentação política e partidária, o distanciamento das pessoas em relação aos processos de decisão partidária e o sentimento de não representatividade, têm tido forte influência na fuga dos votos para a extrema- direita.

































