Exmo. Senhor Director:
Mudei-me para as Caldas, onde tenho raízes1, por motivos de saúde, depois de me ter reformado de Professor do IST em Lisboa. Para me readaptar à realidade caldense e procurar casa, tornei-me assinante da Gazeta, o que mantenho.
Vem esta carta a propósito de artigos vossos recentes sobre o “Plano Estratégico para as Caldas da Rainha” até 2030, que andou a ser elaborado durante meses – paradoxalmente antes de eleições autárquicas que, julgava eu ingenuamente, ser onde se escolhe quem definirá as estratégias para os municípios.
Na Gazeta de 4/8, o tema é de novo tratado num artigo em que se salienta que a “Apresentação Pública do Plano não suscitou nenhuma pergunta”. Como tal reunião se realizou em Julho, eventuais observações não teriam efeito, pois o Plano já tinha sido aprovado. E também não li nenhum artigo a informar antes que essa reunião iria ocorrer. Mas, a 4/8 tal plano também é analisado na “Semana do Zé Povinho”, o que merece comentários.
Aí refere-se que: «Este plano de agora, apesar de não ter tido oposição da oposição, não mereceu grande entusiasmo nem mobilização da parte da população. Nem as organizações da sociedade civil caldense(…)». Seria interessante tentar perceber porquê. Ora, o “Zé Povinho ” faz algumas observações interessantes, para depois retirar delas o que são, na minha opinião, conclusões erradas.
Disse ele com inteira correcção:
– «Defender que a visão para as Caldas da Rainha em 2030 é a de ser um local “que proporcione vida aprazível em continuidade, num território que atualiza os seus emblemas de atratividade e se adapta aos ciclos de competitividade”, é coisa que serve tanto para Caldas da Rainha como para todas as cidades do mundo»;
– «Afinal trata-se de um processo top down, ou seja, em que as ideias são geradas em cima por consultores ilustres, mas que não utilizam o processo de planeamento para enriquecer o conhecimento comum e mobilizar as pessoas para serem proactivas e actores do seu próprio processo de desenvolvimento» e
– «os consultores apenas organizaram três debates públicos com convidados com fraco conhecimento da realidade local».
Mas daí concluiu, de forma contraditória, que «em vez de procurar culpados entre os responsáveis, prefere atirar as culpas para os cidadãos em geral, que estão pouco motivados ou interessados na participação da definição do futuro comum.». Ora, tendo eu estado presente na sessão de lançamento do plano, conclui que tal sessão era pseudo-participativa, pois tinha conferencistas que falavam do alto, sobrando depois para os restantes assistentes alguns minutos para perguntas ou comentários curtos. Ora quem escolheu esta abordagem foram os responsáveis e os consultores, não foram os caldenses que, muito sensatamente, não aderiram ao método.
Acresce que este processo de “planeamento estratégico” tem mais de 50 anos e existem, desde há 30 anos, métodos usados em todo o mundo que, precisamente, estimulam a participação e a auto-organização dos cidadãos ou colaboradores e permitem a emergência de soluções inovadoras. Entre esses métodos conta-se a Open Space Technology, que tem uma extensa comunidade de facilitadores em todo o mundo, e está agora a preparar a realização da sua reunião mundial anual, que terá lugar em Outubro em Taiwan. Já houve contactos com o “Instituto OST de Portugal”3, no sentido de, caso se obtenham as necessárias condições locais, a reunião de 2018 se realize em Portugal – possivelmente nas Caldas da Rainha. Aliás a OST pode ser importante na mobilização para a realização do Plano Estratégico, mas também no desenvolvimento de uma sociedade, e de empresas e organizações, mais competitivas, inovadoras e sustentáveis em toda a zona Oeste.
Finalmente, há um outro aspecto a assinalar: um dos organismos da sociedade civil com boa capacidade de informação e mobilização é a própria “Gazeta das Caldas”. Ora, se exceptuarmos a “Agenda Cultural”, a Gazeta raramente informa de eventos cívicos que irão ter lugar no próximo período. Acho que tal auto-crítica tinha ficado bem neste balanço.
Com os melhores cumprimentos.
Artur Ferreira da Silva
www.linkedin.com/in/arturfsilva/
(Endnotes)
1 Apesar do meu nome, não tenho qualquer relação familiar ao mestre Ferreira da Silva. As minhas raízes familiares nas Caldas têm ligação ao mestre ceramista José Alves Cunha, dos finais do séc. XIX. Ver João Serra, “Caldas da Rainha: Guião e Guia” (2003), pg.3.
2 Artigo 84º da Lei 169/99
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