Joana Beato Ribeiro
IHC-NOVA-FCSH; CEHFCi-UÉ; PH
Bolseira de doutoramento FCT
A terminar este percurso pela obra de Fernando da Silva Correia, destaca-se o livro “Pergaminhos das Caldas” e bem longa é a sua história. João B. Serra e Paula Cândido explicaram que principiou na década de 1950, quando este médico, nos tempos livres que dedicava à investigação, começou a preparar uma antologia sobre a cidade. Não é fácil precisar se foi o convite de Júlio Lopes para escrever na Gazeta a motivar a investigação sobre os pergaminhos locais ou se esta já estava em curso, mas a verdade é que o artigo de 15 de maio de 1953 simboliza o seu início. Correndo os séculos XIII a XX e reunindo textos de variados autores, este livro é hoje útil àqueles que pesquisam sobre a história local.
Em 1993, foi descoberto “um extenso lote de textos ordenados com um evidente propósito editorial” no arquivo pessoal e familiar Fernando da Silva Correia, que motivou um trabalho de investigação com vista à consulta e necessárias atualizações dos textos selecionados – tarefa em que também colaboraram Hermínio de Oliveira e Luís Nuno Rodrigues.
A edição da associação PH, que integrou as comemorações do centenário do nascimento do antologista, conta com uma nota prévia de Mário Gonçalves (diretor do Centro Hospitalar, que batalhou para que o nome do Fernando da Silva Correia fosse dado à instituição), seguindo-se alguns dados sobre o médico, o projeto, o livro e a transcrição de artigos de imprensa. No de 15 maio de 1953, pergaminhos são apresentados como “textos e documentos fundadores e enobrecedores da história das Caldas”. Reflexão e foco que parece dar lugar, em 1962, a uma “maior ênfase à referência às Caldas”, sendo daí o subtítulo “Antologia do Depoimento sobre as Caldas da Rainha”.
Os 59 trechos editados surgem depois e entre eles constam algumas das fontes publicadas por iniciativa de Fernando da Silva Correia e mencionadas ao longo deste ano. “Impressões de um talentoso médico, jornalista e antigo deputado”, ocupa apenas três páginas na obra, mas desvenda que foi a partir das vivências nas Caldas da Rainha em 1920, que, mais tarde, o antologista e o médico José Troncho de Melo, antologiado, se reencontraram para trabalhar em prol da homenagem feita à rainha D. Leonor, por ocasião do V centenário do seu nascimento. Este texto, apenas um exemplo do conteúdo da obra, foi inicialmente publicado no “Círculo das Caldas” e é dedicado a Rafael Bordalo Pinheiro e a Francisco Elias. O autor mostra particular interesse nos “quadros” das capelas do Buçaco, assim como no “excepcional génio de artista!” do “Mestre Elias”. O interesse neste trecho poderá ter residido especialmente nesta referência, já que Fernando da Silva Correia foi indicado, pelo escultor João Fragoso (1987), como o “biógrafo exemplar” deste miniaturista.
Tanto ao projeto como à sua edição, está subjacente a ideia de que os pergaminhos são o registo da nossa existência, constando entre eles não apenas os textos antigos, mas também os contemporâneos – diga-se: por vezes em maior risco de perda. Na opinião de Fernando da Silva Correia, os pergaminhos constituíam “o melhor estímulo para a sua [caldense] mocidade e o melhor incentivo para os que na cidade e no concelho trabalham pelo bem comum” (15 de maio 1953). Terá sido esta – a valorização dos pergaminhos – também uma das batalhas deste médico? Estou em crer que sim. ■
































