Pensatório

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Gazeta das Caldas
Margarida Varela

O convite para fazer parte do novo leque de comentadores da Gazeta das Caldas foi inesperado. Hesitei! Mas o Cipriano soube elaborar um bom desafio, eu gosto de desafios, especialmente quando têm como epicentro a cidade que amo!
Antes de mais, quero agradecer à Gazeta pela aposta audaciosa que faz nestes artigos de opinião e saudar os meus colegas nesta demanda pela pluralidade de olhares sobre o concelho de Caldas da Rainha.
Escolhi para nome desta coluna “Pensatório”.
A “arte” de pensar é fundamental ao promissor desenvolvimento do género humano. Somos ontologicamente seres à procura, inquietos, em constante construção que nos permite ir mais além, que nos permite ultrapassar obstáculos e projectar um futuro mais bonito. O nosso coração é como o Google, é um motor de busca, no qual devemos “buscar” com sentido. As grandes perguntas, as questões pensadas, conduzem às grandes descobertas e decisões mais inteligentes.
Pensar capacita-nos à liberdade, retirando-nos do medo que paralisa e que inibe a capacidade de sonhar e desejar mais e melhor.
No conceito de ironia de Sócrates, só ingressava no “Pensatório” aquele que se libertava dos raciocínios caducos atrevendo-se a deixar para trás o manto da hipocrisia costumeira deixando-se seduzir pela verdadeira liberdade.
Para os jovens o “Pensatório” é, também, o local onde o Harry Potter “despejava e via” os pensamentos, onde os podia analisar e depois de analisados tomava decisões mais correctas.
Os Judeus, povo com mais prémios Nobel ganhos, o que revela uma inteligência muito apurada, têm, também uma noite por ano de “Pensatório”, a que chamam de “Aggadah”.
Tudo isto para dizer o quê? E, o que é que isto tem a ver com as Caldas da Rainha?
É que pensar faz bem, permite-nos ousadia de sonhos e segurança de decisões!
Se tomarmos a nossa fundador como referência, percebemos o quão inteligente era esta mulher. Inteligência que lhe advinha dum espirito inquiridor e buscador incansável.
A seu tempo desejou criar, aqui, algo inovador, o Hospital Termal, ao serviço de ricos e pobres. Pensou, ponderou, mandou fazer estudos e análises e “pôs mãos à obra”. Nunca se calou, nunca se deu por vencida, insistiu com o marido D. João II, com o Cardeal Alpedrinha, com seu irmão D. Manuel I… Colocando um sem fim de confiança no seu projecto, originando, em muito pouco tempo, apesar deste local ser muito pouco atraente, cheio de mato e tojo, um espaço impar a nível mundial.
Leonor não teve medo de ousar, de sonhar, de ir mais além. Consciente das suas capacidades rodeou-se de pessoas competentes, delegando funções. Foi suficientemente forte para perceber que tinha de consultar mentes mais sábias, a sua inteligência dizia-lhe que quando queremos dominar tudo, atrofiamos ao contrário de expandirmos. “Separa et impera!”
Uma mulher tão antiga mas tão moderna. Uma mulher com “vistas largas”, projectos empreendedores, capacidade de iniciativa fora dos padrões epocais. Será importante lembrar que era mulher, por isso, muito facilmente delegada para o espaço dos “sem voz”. Porém estava segura do que ambicionava e mesmo sem internet ou influenciadores de mercado fez das “suas” Caldas um lugar de “fortuna” económica, ecológica e de bem-fazer. Um polo de atração para tantos, nacionais e estrangeiros que, ao longo de séculos, aqui se deslocavam e aqui criavam riqueza económica e sociocultural.
Ainda não há muitos anos as Caldas era um local efervescente em várias áreas, consequência duma Rainha que pensou, desejou e executou com ousadia, não se contentando com o suficiente ou com o mínimo para calar o povo, ou para fazer “boa figura”!
Leonor deu lugar ao “Pensatório”, libertando-se de pensamentos caducos!


Margarida Varela
margaridavarela13@gmail.com

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