A notícia do alegado interesse de um investidor russo numa eventual estância termal em Óbidos teve, pelo menos, o mérito de acordar o debate sobre o problema termal caldense, o qual, passado o fervor eleitoral, parecia ter caído no mais absurdo torpor.
Mas afinal, o que é que as eventuais termas de Óbidos têm a ver com as reais, embora paradas, termas das Caldas da Rainha? A resposta não é óbvia e por isso vale a pena recordar a cronologia dos acontecimentos.
No período pré-eleitoral, quando a Câmara Municipal de Caldas da Rainha tinha muita urgência na resolução do problema do Hospital Termal, foi divulgada a possibilidade de Óbidos vir a abrir termas nas Gaeiras. Mais tarde, já em plena campanha eleitoral, a Câmara Municipal de Óbidos confirmou a descoberta de um aquífero termal nas Gaeiras, num terreno que pertence à Associação Nacional de Farmácias. A 11 de janeiro, o novo executivo de Óbidos divulga o alegado interesse de um investidor russo na exploração das águas termais das Gaeiras e, logo a seguir, a Associação Nacional de Farmácias (a dona do terreno) diz que não sabe de nada… Para enredo já chega, esperemos que não seja do tipo policial.
O desaparecimento da urgência inicial da Câmara Municipal de Caldas da Rainha explica-se pelo mais elementar bom senso. Na altura, a generalidade das forças políticas fizeram ver ao executivo PSD que o problema do Hospital Termal era um assunto de importância estratégica para a cidade e para o concelho das Caldas da Rainha, sendo merecedor do maior consenso possível e não de qualquer solução precipitada e suscetível de ser usada como bandeira eleitoralista. Naquela altura, a informação de que Óbidos queria ter as suas próprias termas parecia uma ameaça fantasma destinada a justificar a tal urgência.
Os desenvolvimentos posteriores levam-nos agora a pensar que afinal pode não ter sido mera fantasia, podendo ser, talvez, algo mais sério. Mesmo assim, pode até não passar de uma monumental ação de marketing, coisa em que Óbidos é bom e não costuma brincar.
Realidade ou ficção, a hipótese de Óbidos vir a ter as suas termas deve ser encarada como ameaça para as Caldas da Rainha? Não, simplesmente porque se alguma coisa correr mal para as Caldas a culpa não pode ser imputada a Óbidos. No plano termal, Óbidos ainda não tem nada mas pode vir a ter alguma coisa, enquanto Caldas tinha tudo a agora parece não ter nada. Tudo seria diferente se o Hospital Termal estivesse a funcionar normalmente, mas não está e é aqui que reside a prioridade das prioridades.
Está em curso uma auditoria ao sistema de captação, adução e distribuição da água termal. É fundamental que os resultados desta auditoria sejam amplamente divulgados. Pior que a bactéria legionella, só mesmo a contaminação ideológica para acabar de vez com as nossas Caldas.
Assente a poeira levantada pela campanha eleitoral, há que encontrar com urgência a solução, tendo em conta o contributo de todas as forças políticas e a participação informada dos cidadãos.
Está na hora de estabelecer uma Carta de Princípios que renove e atualize o Compromisso da Rainha.
Edgar Ximenes


































