Paradigma da capoeira

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Apostaria em como todos nós queremos ser atraentes. Não me refiro aqui a ser bonito ou com dotes físicos por aí além, mas sim à capacidade de atrair os outros, de os cativarmos, de ser desejada e querida a nossa presença. A nossa atratividade traduzida no nosso grau de agradabilidade.
Mas o que é que de facto nos torna seres agradáveis e, consequentemente, atraentes para os outros?
Por exemplo, num cenário de liderança – em que importa atrair o interesse, a dedicação e o empenho dos outros em prol de um propósito comum – o que determina essa atratividade?
Não será apenas o estar lá fisicamente, nem o ser capaz de tomar decisões e de “mandar”, nem o falar “bem”. Mais do que isso, a nossa atratividade não depende dos decibéis a que somos capazes de projetar a voz – por mais que isto contrarie a tendência competitiva da nossa natureza. Nas capoeiras, como na vida e nas empresas, as lutas de galos só têm um propósito: afirmar qual o galo que manda – sendo que só galos podem mandar e necessariamente um deles se rebaixa perante o outro.
Ou haverá alternativa, para que as capoeiras – assim como os grupos de pessoas e os grupos de empresas – passem a ser espaços com outras formas de ordem, geradas com base na agradabilidade dos seus membros e na sua atratividade merecida, mais do que imposta?
Num estudo realizado na Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA) os participantes avaliaram cerca de 500 adjetivos, sendo-lhes pedido que identificassem os adjetivos cujo significado era mais próximo do significado de agradabilidade. Curiosamente, os adjetivos mais pontuados nada tinham que ver com ser sociável, inteligente ou fisicamente atraente, mas sim com ser sincero, transparente (diferente de ser reativo), e ter a capacidade de entender a outra pessoa (incluindo a empatia).
Tenho tido a oportunidade de assistir e participar em alguns encontros de empresários na nossa zona. Inclusivamente encontros dedicados à reflexão e à aprendizagem sobre estes temas da gestão de pessoas e da liderança. E tem-me parecido que este tipo de ações têm adeptos. Líderes, gestores e outras pessoas com cargos de responsabilidade inscrevem-se e participam. Muitos até já se conhecem e voltam a encontrar-se em mais um seminário, conferência, formação sobre aqueles temas. Parecem de facto serem assuntos considerados interessantes e até úteis à gestão do dia-a-dia.
Contudo, observo frequentemente o “paradigma da capoeira”. Ocupa-se o tempo a “puxar galões” e incorre-se frequentemente na contradição típica: faço exatamente o oposto daquilo que apregoo que deve ser feito.
Interrompe-se, fala-se mais alto do que o outro, muda-se de tema e insistentemente começamos as frases com “sim, mas…” (o que já de si é contraditório). Como se nada fosse… e tudo isto é “pacífico”, porque se acha que é “normal” e porque a expressão individual é libertina por natureza. Ok… é uma leitura válida.
Porém, nestes encontros, muito mais raras são as vezes em que observo consciências: a capacidade de ser conscientemente sincero, transparente e aceitante (não necessariamente concordante) das outras pessoas.
Pergunto-me se haverá essa consciência, apesar de eu não a ver… Será possível que ela exista (nos líderes, gestores, em cada um de nós), mas que seja propositadamente omitida porque “não fica bem” sermos genuínos, sinceros, honestos, transparentes… (?) Será essa consciência vista (contrariamente à opinião dos americanos) como sinal de fraqueza?

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