Alberto Costa
Advogado e antigo ministro da Justiça
Correspondo, com gosto, ao convite que me chega do Coordenador da Comissão do Centenário da Gazeta das Caldas, Desembargador Carlos Querido, para escrever umas breves palavras nesta edição do centenário. A Gazeta é um jornal a que me ligam laços – tanto de leitura como de colaboração, em diferentes papéis – com duração praticamente idêntica à do nosso regime democrático.
Ter persistido na sua missão durante um século, com tão drásticas mudanças à sua volta – designadamente na esfera institucional, tecnológica e comunicacional – constituirá sempre uma notável prova de capacidade de adaptação e de serviço prestado à comunidade, que justifica a inscrição da Gazeta no património regional e local. Tal como a imensa maioria dos leitores, não conheci a Gazeta do período anterior ao 25 de Abril, e por isso homenageio em particular o trajecto percorrido em democracia, em que a liberdade de expressão se substituiu ao anterior condicionamento repressivo da censura prévia e o pluralismo, o diálogo e o confronto passaram a exprimir-se, em benefício duma esfera pública crítica e participativa, neste caso com específica incidência no regional e local.
Mas ao reconhecimento desse contributo há que juntar, agora, o sentido da realidade, das suas imposições e desafios. Há hoje muitas interrogações e sérias apreensões em torno do futuro da imprensa, e muito em especial da imprensa local. Manifesto aqui uma convicta esperança no seu papel futuro – e até, mais do isso, numa sua reinvenção – destacando apenas um dos vários fundamentos dessa convicção. É que, com o afastamento dos centros efectivos de poder, públicos e privados, e a sua planetarização (de que são exemplo maior as grandes empresas tecnológicas), é inegável que cresce também, para as pessoas e para as comunidades, em inevitável contraponto, o valor da proximidade – e, nesse quadro, muito em particular, o valor do regional e o local. Ora foi justamente ao serviço dessas dimensões de proximidade que órgãos como a Gazeta das Caldas souberam perseverar, adaptar-se e durar, subindo os degraus duma mudança que se impõe prosseguir e aprofundar. E há condições e motivações acrescidas para o continuar a fazer, já que a procura de fundo da proximidade está lá – e não parará de crescer.
Não posso deixar de referir que, durante quase meio século, a «Gazeta» me chegou sempre representada e dirigida pelo José Luís, amigo desde os tempos longínquos do exílio – que eram também, e não por acaso, os tempos da supressão, local e nacional, da liberdade de expressão. Esta declaração de interesses impõe-me, naturalmente, sobriedade. Mas num tempo que é de centenário e de natural passagem de testemunho, ficaria de mal comigo próprio se não homenageasse também essa longa e generosa dedicação e o valor insubstituível do seu contributo para a edificação deste património centenário. Muitos concorreram por certo ao longo de tão extenso arco de tempo e a várias razões se ficará dever a notável persistência e o valioso contributo dum jornal como a Gazeta, que atinge agora a bem rara marca dos cem anos: uma delas, contudo, resume-se simplesmente no seu nome. Que novas gerações saibam agarrar no testemunho e avançar por novo século fora!

































