DE PALAVRA EM RISTE | Serviços e proximidade

0
1012
Notícias das Caldas

Com a chegada deste século XXI, intensificou-se, em muitos países, um processo de crescente desprezo pela satisfação das necessidades, bem-estar e melhoria da qualidade de vida da Comunidade. A crise económica gerou desemprego, precariedade, pobreza e desigualdade. A onda liberalizadora arrancou da gestão pública sectores fundamentais como, no caso português, a electricidade ou os CTT, sem que os cidadãos, submetidos a uma barragem de publicidade massiva, tenham beneficiado significativamente. Pelo contrário.

Os serviços de proximidade, destinados a proporcionar o mais fácil acesso e utilização a quem eles recorra, têm vindo a ser desmembrados ou encerrados, ou então funcionam quase que esmagados pelas dificuldades com que se confrontam. Para referir tão só o exemplo das Caldas da Rainha, na área da Saúde, as obras para ampliar o Centro de Saúde nunca mais acontecem e o mesmo se passa com as prometidas obras nas Urgências Hospitalares, que laboram em frenesi caótico; na Linha do Oeste, administração da CP manda desviar material circulante ferroviário para a Linha do Douro e substituí-lo por locomotivas e composições em pior estado; Os utentes não constituem prioridade nem preocupação. Isto sem falar na Justiça que se debate com inúmeros problemas em todo o País.
No que toca ao desenvolvimento agrícola do concelho, a CDU apresentou na Assembleia Municipal um questionário para o executivo, que demorou mais de dois anos a ser respondido e mesmo assim, só parcialmente. Também alertou para a situação em que se encontra a barragem de Alvorninha, inaugurada, pelo então 1º ministro Santana Lopes, com a pompa e circunstância que estes actos sempre possuem, e que hoje, perante a passividade geral, tem as canalizações de irrigação apodrecidas, constituindo assim um investimento praticamente inútil.
Vem este assunto a propósito de uma pergunta dirigida ao ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural que os deputados do PCP Bruno Dias e João Ramos entregaram na Assembleia da República sobre o esvaziamento dos serviços da Direcção Regional de Agricultura:
A Divisão de Investimento de Agricultura e Pescas, localizada nas Caldas da Rainha, é uma estrutura de recepção e análise de processos de candidatura, ocupando-se também dos processos de pagamento que eram depois enviados ao IFAP. Estas funções eram desempenhadas por seis agrónomos. A Direcção Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo tem estruturas operativas quer em Santarém, quer nas Caldas, sendo que das candidaturas processadas na DRAP, cerca de metade o eram nas Caldas. Durante muitos anos, por responsabilidade de sucessivos governos, o DIAP, apesar da sua importância, foi sendo esvaziado com a transferência de serviços para Santarém, não se tendo verificado o reforço de técnicos. Decidiu agora a Direcção-Regional deslocar toda a actividade e processos do DIAP para Santarém, afastando assim, sem consulta, técnicos com mais de 25 anos de experiência e com um conhecimento alargado sobre a agricultura e explorações do Oeste, bastante diferentes da realidade ribatejana.
É incompreensível: os agricultores Oestinos são obrigados a deslocar-se a Santarém para tratar dos seus assuntos ou obter documentação. Acresce que acarretará acréscimo de despesas, já que os projectos aprovados implicam vistorias de acompanhamento obrigatório por parte dos técnicos.
O documento conclui que «os serviços do ministério de apoio, à actividade produtiva são fundamentais e não devem ser extintos» e interroga quais os critérios para esta medida.
É que os desejáveis serviços de proximidade não têm muito em conta a proximidade desejável dos serviços!

- publicidade -