UM LIVRO POR SEMANA «Os meus misteriosos pais» de José Viale Moutinho

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«Os meus misteriosos pais» | D.R.

José Viale Moutinho (n. 1945) assina neste seu 13º título para o público jovem uma revistação ao passado de Portugal, ao chamado «tempo da outra senhora». O ponto de partida é a memória de um jovem clandestino: «Chamo-me Álvaro, Carlos, mas já me chamei Alberto, Augusto e António.» É pelo olhar desse menino que se organiza a memória da vida antes do «25 de Abril». Por exemplo os bufos: «O professor Pascoal tomava a devida nota e depois a faria seguir para a PIDE. Chama-se a essa gente que, sem ser da polícia, espiava as pessoas, as denunciava ou levantava suspeitas, os «bufos», ou seja os informadores». Surge também a Guerra Colonial («Adeus, até ao meu regresso») e a Censura: «Até uma entrevista que o Marcelo Caetano deu a um jornal brasileiro, «O Globo», foi proibida de ser transcrita nos jornais portugueses. O censor justificou que a entrevista era para os brasileiros e não para os portugueses!»

Um dos pormenores mais curiosos do livro tem a ver com a inclusão de poemas na narrativa. Por exemplo o célebre poema de Luís Veiga Leitão a uma bicicleta na cela que começa assim: «Nesta parede que me veste / da cabeça aos pés, inteira / bem-hajas, companheira / as viagens que me deste.»E o poema de Fernando Pessoa sobre a figura de Salazar: «Este senhor Salazar / É feito de sal a azar / Se um dia chove / A água dissolve / O sal / E sob o céu / Fica só o azar, é natural. / Oh, c ´os diabos! / Parece que já choveu…»
Algumas gralhas surgem na página 50 (visto por viste), na 38 (trolha por pedreiro), na 69 Bento Gonçalves referido como secretário em vez de secretário-geral do PCP de 1929 a 1942 e na 68 refere-se Sal em vez de Santiago como a ilha onde fica o Tarrafal.
(Editora: Lápis de memórias, Design: Bruno Inácio, Capa: José Dias Coelho)

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