Até os CTT serem privatizados eu recebia correio quase todos os dias na minha casa, nas Águas Santas (Caldas da Rainha) e, por vezes, duas vezes no mesmo dia. Após a privatização, o correio começou a escassear, havendo dias seguidos sem uma única entrega; depois há um dia em que a caixa de correio está a abarrotar, com alguma correspondência danificada, nomeadamente revistas, e um ou outro documento entregue fora de prazo, como marcação de consultas no Hospital.
Percebe-se a ótica de uma empresa privada: maximização do lucro e minimização dos custos… a satisfação das necessidades, logo se vê!
No mês passado não recebi dois documentos que careciam de pagamento com data limite. Como pessoa prevenida, telefonei para a instituição que os emitiu e confirmaram que os tinham enviado; como o prazo limite se aproximava solicitei uma segunda via dos documentos pedindo também telefonicamente os dados para proceder aos pagamentos rapidamente; felizmente que o fiz porque a segunda via também nunca chegou. Telefonei novamente perguntando se não havia outra forma de receber esses documentos para não estar à mercê dos atrasos dos correios; disseram-me que me enviariam um código pelo correio e que também o poderia solicitar pelo site. Aguardei uns dias e o tal código não chegou via CTT; consultei o site da instituição e pedi o tal código; a resposta informática foi que esse código já tinha sido solicitado, o que confirma que o funcionário da instituição fez o que me disse, registou-me e enviou-me o código… mais uma vez a falha foi dos CTT; resolvi pedir o código novamente. Aguardei um mês. Tornei a não receber os dois documentos mensais que carecem de pagamento. Procedi como da primeira vez: telefonei, expus o problema, pedi os dados e segunda via; e já agora os códigos para não ter que passar por esta situação novamente. Confirmam-me que foi tudo enviado com as respetivas datas de envio, tal como no mês passado.
Os CTT não estão a prestar o serviço que deviam.
Quando eram públicos, além de lucrativos eram eficientes. Agora são lucrativos mas ineficientes. Na Ciência Económica chama-se a isto Falhas de Mercado, e nesse caso, o Estado deve intervir para garantir a eficiência. Deverão os CTT ser nacionalizados?
Quando os CTT eram públicos, o presidente ganhava 21,8 vezes mais que a média salarial dos seus trabalhadores. Agora que são privados o mesmo presidente passou a ganhar 45,3 vezes.
Parafraseando Nicolau Santos, “Eis em todo o seu esplendor as vantagens do sector privado sobre o público”…
O sector privado defende a meritocracia, especialmente quando quer comparar situações profissionais no sector público; que os melhores devem ser premiados. Também sou apologista do mérito. Mas é difícil aceitar que uma chefia seja premiada quando a sua empresa presta um mau serviço.
Possivelmente não foi boa ideia o Estado vender os CTT, ou pelo menos, vender totalmente. Era bom que o serviço público pudesse ser assegurado.
E já agora, é bom lembrar que a desigualdade salarial é ainda maior noutras empresas, e as chefias lamentam o aumento do salário mínimo nacional. É preciso ter topete.
Cristina Mendonça de Sousa
NR – Como é habitual, Gazeta das Caldas tentou contactar os CTT para obter o contraditório, mas a empresa é tão opaca que não se deixa contactar. Um formulário preenchido no seu site teve como única consequência uma resposta automática que acusava a recepção da mensagem sem, contudo, responder a nada.
































