Em muitas aldeias das Caldas da Rainha e da região Oeste era tradicional atribuir-se efeitos curativos ao orvalho da manhã de S. João (24 de Junho).
Alguns, dirigiam-se às fontes públicas e aos regatos e faziam questão de lavar a cara e os olhos em águas ainda detentoras do orvalho da manhã de S. João.
Outros, chegavam mesmo a deixar na rua, durante a noite, alguidares com água, para obterem o desejado orvalho da manhã de S. João, com que se lavavam de manhã cedo.
É fácil de ver, entre esta tradição e fé populares, uma relação com a cena bíblica de São João Batista a batizar Jesus Cristo nas águas do rio Jordão.
Também ligada à manhã de S. João existia ainda outra curiosa tradição praticada, mas às zero horas do dia de S. João. Consistia esta, num ritual que visava curar bébés que fossem portadores de hérnia umbilical. Para o efeito, o bébé a curar tinha três madrinhas, todas com o nome de Maria e que ainda estivessem virgens, e um padrinho que se chamasse João e fosse ainda solteiro.
A cerimónia devia começar junto de um regato, ou fonte, onde existissem vimes. Uma verga de vime era rachada a meio, de forma a fazer um arco por onde passasse o bébé a curar. As madrinhas colocavam-se em frente do arco de vime e o padrinho no lado oposto.
As madrinhas faziam passar o bébé pelo arco de vime, enquanto diziam as litúrgicas palavras: “Toma lá João este menino doente e dá-mo cá são”. O padrinho recebia e devolvia o bébé, também através do arco de vime, enquanto dizia: “Toma lá Maria o menino que já vai são”.
O bébé tinha uma camisinha branca , que era rasgada, e com os bocados era feito um cordão , que era enrolado à volta da verga de vime, visando unir as duas partes e que estas sarassem. Se o vime sarasse, era sinal de que o bébé ficava curado da sua hérnia umbilical e deixava de ser “quebrado”.
Acrescento ainda outra referência, também curiosa: Eu fui um dos bébés que foram submetidos ao ritual de passar por um arco de vime, às zero horas do dia de S. João. Não me lembro de nada, mas investiguei e soube. A cerimónia ocorreu junto ao regato das hortas da Vermelha, propriedade pertencente à grande herdade agrícola do Casal Novo, de Benevenuto dos Santos, meu avô paterno. O meu padrinho de baptismo (João Maria Daniel, dos Lobeiros) foi o padrinho da nocturna cerimónia. E as três Marias, que serviram de madrinhas, foram: Maria Joaquina, do Outeiro da Ramalhosa, Maria José Vieira de Matos, da Ramalhosa, e Maria Quitas (Botas), dos Baixinhos.
Disseram-me que o vime veio a sarar.
João Daniel Santos
(Ramalhosa)
































