ontem & hoje

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Um desafio à minha imaginação…: a contemplação de duas fotos tão diferentes e duas imagens “tão actuais”, se vistas pelo seu lado negativo…
A primeira foto é talvez do início dos anos 40 do passado século. Com os meus 70 anos, já não me lembro dessa imagem de destruição, que então pontuava o Castelo de Óbidos.
Ainda menino, aí pelos meus seis, sete anos, recordo-me apenas da segunda imagem, sem no entanto a visão sem jeito, de um inestético poste e de uma ponte degradada, mas verdade seja dita, nesse tempo eu ainda não ligava muito a essas coisas.
A ponte deve também datar mais ou menos desses distantes anos de quarenta, já referidos. Sei que o responsável pela sua construção foi um senhor de nome João Ribeiro (“o Frade”, pela mão de quem se começaram a ver os primeiros filmes em Óbidos, pois foi ele que executou para o efeito, as obras na antiga Casa da Música e explorava depois os filmes nela projectados) e o “encarregado” responsável directo, o saudoso obidense Ápio Ribeiro (creio que sobrinho do João Ribeiro), da boca de quem ouvi algumas vezes que a ponte não aguentaria certamente os pesos excessivos que por sobre ela passavam, pois que não fora construída a pensar nessas cargas de múltiplas toneladas (parece que nesse tempo se construía forte e feio… e tem aguentado…).
Mas vamos às fotos…: Se a primeira foto me lembra um período em que aos nossos monumentos mais marcantes ainda não tinham sido tocados pela “mão do Estado Novo”, lembra-me também a passagem (para além da imagem da primeira casa a ameaçar ruína), dos comboios na linha do Oeste, melhor servida então, mesmo se com comboios a vapor, do que agora, em tempos de velocidades vertiginosas, em que nos poderíamos quedar (se tivéssemos tempo para isso), a ver passar os poucos comboios, vazios que não servem os cidadãos que deles necessitam nas condições que o século XXI exigem.
Lembro-me do Castelo “recém encamisado” aí pelos anos de 1952, quando fui a Óbidos para o meu exame da então terceira classe.
Nasci na pequena e simpática povoação do Arelho, vizinha da Lagoa de Óbidos e contemplativa do Castelo ao longe. A viagem feita nesse tempo a pé (os quilómetros pareciam não ter então as actuais medidas, pareciam mais curtos…), levava a que desde quase o Arelho até Óbidos se avistasse o Castelo.
Chegado perto da Ponte sobre o Arnoia, um miúdo como eu, com nove anos ao tempo, não deixava de ficar mais que embevecido, quase esmagado, pela grandiosidade do Castelo.
Ao tempo, não eram visíveis tantos postes para a electricidade (bem vistas as coisas, ao tempo em muitos lugares nem electricidade havia), mas estou certo que mesmo que houvessem, não iria para eles o meu olhar. Com essa idade eu ia lá ligar ao inestético poste que coloca aos nossos olhos a segunda foto?
Pois é essa imagem negativa que marca, e bem, a segunda foto que me foi proposta. E esta imagem, é efectivamente uma imagem degradante, que inegavelmente degrada, uma linda imagem de Óbidos, vista a partir dum dos lados para mim mais bonitos, do lindo Castelo de Óbidos.
Com efeito, é inimaginável a falta de gosto e de sensibilidade, dos responsáveis da EDP, e porque não dizê-lo da PT, que “semearam” por tudo o que é sítio os mais inestéticos postes de cimento, ferro ou madeira, carregados de fios e caixas pretas, não importando se os mesmos ficam perto ou longe de coisas que a nossa vista gostaria de poder admirar, sem a carga negativa de imagens que degradam o ambiente visual.
Com tantos milhões de lucro, não acredito que não fosse possível a essas Empresas, ter um pouco mais de cuidado e escolherem em muitas situações, a possibilidade de enterrar os cabos e noutros casos escolher localizações que não fossem tão agressivas à vista.
Estas duas imagens dão-nos também uma visão comum: nesses tempos como agora, pouco se olha à preservação do nosso Património, seja ele construído ou visual.
O que não deixa de nos deixar bastante entristecidos.
(Nota…: peço desculpa de não ter feito este pequeno apontamento dentro das normas do novo acordo ortográfico, mas a verdade é que sendo o texto sem grande qualidade literária, para mim escrito com ortografia actualizada, teria a mesma imagem do Castelo de Óbidos, enquadrado com aquele poste ou com a visão daquelas ruínas.)

Maximino Martins

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