Onde é que o ativismo pelo ambiente e pelos direitos humanos (não se) cruzam?

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Filipa Silva
Eng. Agrónoma – Consultora e Formadora

O mundo vive acontecimentos de grande relevância, sendo de grande responsabilidade a seleção do tema sobre o qual decidimos escrever. Poderia escrever sobre vários temas, nomeadamente sobre esta Guerra que nos está diretamente ligada uma vez que o Governo português deu autorização para a utilização da Base das Lajes pelos EUA, mas não consigo mudar o foco da Palestina.

Ainda aconteceu que um veleiro chamado Madleen com 12 ativistas de várias nacionalidades, incluindo uma eurodeputada francesa, tentou romper o bloqueio de ajuda humanitária a Gaza por mar, para entregar comida e medicamentos à população. Este não foi o primeiro barco a navegar com este objetivo, mas desta vez, figuras mais conhecidas participaram na missão, o que ajudou a atrair maior atenção internacional. Pediram que todas as pessoas os apoiassem e pressionassem os vários governos a protegê-los na sua missão e a apoiarem a abertura de um corredor humanitário. Após navegarem por alguns dias, o exército israelita interceptou o barco em águas internacionais. Os ativistas foram detidos e deportados. Entre eles encontrava-se Greta Thunberg, a famosa menina que com 16 anos foi convidada a discursar na ONU e no Fórum Económico Mundial, em Davos, que iniciou um movimento de Greves à escola pelo Clima à porta do Parlamento da Suécia. O seu compromisso viralizou num movimento internacional chamado Fridays for Future, levando milhares de jovens às ruas em diversos países a exigir ações concretas pelo clima aos seus governos para evitar a destruição do seu futuro.

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Greta tem sido questionada muitas vezes sobre o porquê de ter mudado o foco do seu ativismo: do climático para o da causa da Palestina e outras causas humanitárias e sociais. A resposta é óbvia. Trata-se de uma única luta interseccional pelos direitos humanos. Quem luta por uma justiça climática luta por uma justiça social, contra sistemas de opressão e destruição. Os ativistas climáticos preocupam-se com os ecossistemas, mas não apenas porque querem proteger as árvores e os animais, como infelizmente muitas vezes são vistos – lutam pela vida humana, pelas vidas que irão sofrer pelos desastres climáticos, pelas deslocações forçadas que irão ocorrer cada vez mais – já estão a acontecer em regiões totalmente secas onde não é possível produzir alimentos, e nas ilhas, que devido à subida do nível do mar estão inundadas deixando de ser habitáveis. Os ativistas e ambientalistas sabem que o planeta por cá ficará e a vida continuará, é a sobrevivência da espécie humana e o seu sofrimento que está em jogo, não é a do planeta. Agradeço a todos os ativistas pelo mundo que não param e não se conformam com a destruição do nosso planeta e da vida, incluindo da nossa espécie humana.

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