Obrigado Zé Nascimento

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Num período (década de 60) em que imperava no nosso país o autoritarismo político e policial, o isolamento em relação a outros países e pairava sobre todos nós o espectro de participar durante quatro anos no serviço militar obrigatório, com o bónus de metade desse tempo ser a defender as “colónias portuguesas”, para a juventude caldense existia um espaço onde estas práticas não eram aceites tão facilmente.
Estamos a falar propriamente do Caldas Sport Clube, nomeadamente nos escalões de formação, ou seja nas equipas de Juvenis e Juniores, dirigidas por pessoas que, de uma forma simples, fácil, democrática e respeitadora tinham um relacionamento fora do enquadramento oficial existente para a época e que desde logo faziam a diferença. Entre as pessoas de que estamos a falar, destacamos o nosso treinador, José Joaquim Nobre do Nascimento, conhecido entre nós por Zé Nascimento.
Tinha um trato muito agradável, era extremamente delicado, de fácil acesso, essencialmente era um desportista, que adorava o Futebol. Era uma pessoa que nunca precisou de métodos coercivos para impor a sua autoridade, seja dentro ou fora das quatro linhas do campo de jogo. Muitos jovens passaram pelas suas equipas e em todas elas, estas características se impunham. O relacionamento era excelente, a estratégia para o jogo, sempre foi de fazer tudo para os ganhar de forma limpa e respeitar os adversários.
Num tempo muito difícil, já discutíamos problemas importantes do país e do desporto em geral e do Futebol em particular, de forma clara, franca e aberta, sem barreiras, tabus ou condicionalismos. Como éramos jovens e inexperientes, em muitas circunstâncias ajudou-nos a ultrapassar barreiras e obstáculos e sermos adultos responsáveis. De forma simples incutia-nos o gosto pelo associativismo desportivo, como uma forma enriquecedora de aprendizagem humana, de grande alcance social e importância desportiva, destacando-o como um espaço privilegiado de encontro de pessoas e gerações que, contribuíam para a sua socialização e desenvolvimento humano.
Com o desaparecimento “físico” do Zé Nascimento, obriga-nos a recuar no tempo, reavivar memórias, sentir emoções já vividas em muitos campos de Futebol, em muitos treinos, balneários, na Foz do Arelho e na sua paixão, o Phoz Plage, não nos sendo permitido ficar indiferentes perante o espelho de um Homem de enorme dimensão e significado, que foi uma referência para todos nós (penso poder ter o atrevimento de dizer assim).
Pela importância e significado de tudo o que foi dito anteriormente e pelo seu contributo cívico no concelho, o Zé Nascimento não desaparecerá facilmente e certamente figurará nas páginas brilhantes da História das Caldas da Rainha, perpetuando, na nossa memória como sinal de agradecimento por tudo o que fez, de forma altruísta.
O melhor que podemos dizer do Zé Nascimento, é que ele também era daqueles que acreditava que o desporto é apenas a mais importante actividade secundária da vida.
Obrigado, por tudo Zé Nascimento. Vamos ter saudades suas.

Manuel Mendes Nunes

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