O valor da economia social e a Conta Satélite

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Filipa Farelo e Eduardo Pedroso
Cooperativa António Sérgio para a Economia Social

Foi lançada, em julho de 2023, a mais recente edição da Conta Satélite da Economia Social (CSES) , com dados de 2019 e 2020. Sem grande surpresa para quem acompanha e conhece o setor da economia social, a CSES revelou, de novo, o contributo significativo que este setor tem para a riqueza e o emprego na economia nacional. Simultaneamente, esta edição salienta a tendência de evolução da economia social em contraciclo com a economia portuguesa, num novo período de crise. Entre 2019 e 2020, período marcado pelos primeiros impactos da pandemia provocada pela doença COVID-19, o VAB, o emprego total e o emprego remunerado da economia social aumentaram, registando um desempenho mais favorável do que o observado na economia nacional no mesmo período, onde todos estes indicadores diminuíram.
Não é de espantar a resiliência e até crescimento da economia social nos períodos de crise, precisamente por serem as alturas da História nas quais as mais prementes necessidades humanas ficam a descoberto, relembrando que as pessoas e o planeta são a base das nossas comunidades e que, sem o seu bem-estar, a economia não pode, a longo prazo, prosperar.
Tantas vezes repetido o lema, não deixa, no entanto, de ser necessário continuar a fazê-lo: a economia social é uma economia que põe as pessoas à frente do lucro, norteada pelo interesse coletivo e pelos objetivos sociais e ambientais.
É por isso que a economia social é um excelente aliado dos Objetivos de Desenvolvimento do Sustentável (ODS), contribuindo grandemente, através da atividade corrente e diária das entidades que a constituem, para os 17 ODS. A ONU reconheceu isso mesmo na sua recente resolução sobre economia social , destacando-se que esta CSES procurou incluir, pela primeira vez, com base nos seus resultados, uma análise de alguns desses contributos, dado que a atuação deste setor, e o seu impacto na sociedade, transcende as dimensões base que são abordadas no quadro metodológico das contas satélite.
Também a Comissão Europeia percebeu, nos anos mais recentes, a grande vantagem que tem em desenvolver esta forma diferente de relacionamento com a atividade produtiva, impulsionando o Plano de Ação para a Economia Social , que se desdobra em diversas atividades, incluindo uma proposta de Recomendação do Conselho que deverá ser aprovada em novembro próximo. Segundo esta proposta, os Estados Membros deverão criar condições favoráveis ao desenvolvimento da economia social nos seus países, incluindo através de estratégias nacionais para a economia social – sendo a CSES um instrumento relevante nesta tarefa.
Com efeito, num mundo em que a democracia e a saúde do planeta estão mais frágeis, é inteligente apostar num modelo que promova a sua recuperação, tal como é inteligente, e até mesmo inevitável, dar voz às preocupações das gerações mais novas, comprometidas com o planeta e para quem a realização pessoal e profissional passa, cada vez mais, por um propósito social ou ambiental.
Ora a economia social está aí, como tem estado desde há muito, com diferentes nomes e nuances, com períodos maior reconhecimento e outros de menor visibilidade. Mas sempre mantendo a sua ação e os seus princípios e valores, a que os mais jovens estão a regressar. Que saiba receber as novas gerações, continuar a inovar e a renovar-se, em prol de uma sociedade mais justa, solidária e democrática, cooperando e dialogando, como é seu apanágio. E que para isso continue a contar com instrumentos tão fundamentais como a CSES. ■

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