Foi publicado recentemente “O Último Caderno de Lanzarote” de José Saramago, vinte anos após lhe ter sido atribuído o Prémio Nobel da Literatura.
Nesta sua obra, Saramago conta e comenta os inúmeros episódios que viveu após ter sabido, no aeroporto de Frankfurt, – no dia 8 de Outubro de 1998 – que o mais prestigiado prémio da Literatura lhe tinha sido concedido.
Por curiosidade, um ano antes, nessa mesma data, estive na feira de Frankfurt, quando Portugal foi o país convidado. E a propósito, uma nota marginal: nunca tinha visto antes tantos cavalheiros, todos bem aperaltados e de ténis nos pés. É que as distâncias a percorrer nesta feira são quilométricas e todos têm de se poupar. Esta peculiaridade só merece referência por ocorrer num tempo em que ainda não era moda calçar sapatos de ténis em qualquer circunstância.
Mas voltemos a “O Último Caderno de Lanzarote”.
Quando soube do prémio dado a Saramago, entrei logo em contacto com a sua Editora, a Caminho, e manifestei o meu interesse em receber o autor na minha Livraria, a Loja 107, para assim o homenagear e permitir o contacto próximo com os seus leitores, que eram muitos, e que demonstravam interesse em o conhecer pessoalmente. A editora acedeu ao meu pedido e combinámos que no dia 24 de Outubro (duas semanas depois apenas) José Saramago viria à Loja 107. Calculem a minha satisfação e o meu orgulho. Em conversa com o Carlos Mota, este alvitrou que a Câmara Municipal fosse informada do facto, pois certamente quereria também prestar-lhe homenagem. Assim foi.
E chegou o dia aprazado: um sábado, em que chovia que Deus a dava. Junto à Livraria formou-se uma fila que se prolongava a perder de vista. Leitores de Saramago, à chuva e ao frio, carregados com os seus livros, esperavam pacientemente pela possibilidade de um autógrafo ou de uma breve troca de palavras. Lá para o fim da manhã, depois da cerimónia na Câmara Municipal de Caldas da Rainha em que recebeu a Medalha de Ouro da Cidade, eis que surge o autor, recebido com salvas de palmas e palavras de apreço. Deu autógrafos e recebeu palavras de afeto de todos aqueles com conseguiram chegar à fala com ele. Vivi, naquele dia, um daqueles dias irrepetíveis e que marca para sempre a vida profissional de alguém que sempre amou (e ama) os livros, e que fez deles um objectivo de vida.
Em “O Último Caderno de Lanzarote”, a páginas tantas, mais precisamente na página 198, Saramago escreve: “Caldas da Rainha – 24 de Outubro – Câmara Municipal – Medalha de Ouro.”
Parágrafo seco, que me faz questionar: serão os leitores o mais importante para os escritores?

































