O que é, o que pode ser uma cidade?

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José Ribeiro
Professor de Políticas Públicas

Neste último artigo para a GC, colaboração que muito nos honrou, retomamos para título uma questão colocada há um ano. Sabemos, sentimos e sonhamos que a nossa Pólis pode e deve ser muito mais. Mas sentimos em simultâneo uma ladainha nefanda e rendida, um endémico provincianismo que não nos larga (veja-se o discurso de alguns “novos” políticos a lamentarem que já não se inauguram “grandes” obras no 15 de maio como antigamente), um fado inescrutável que ecoa nas construções sem planeamento (aqueles prédios na praça da República, quem os plantou?), nas ruas desconchavadas(menos uma: na Rua da estação já se consegue respirar), nas casas devolutas, sobrelotadas ou abandonadas, por todo o concelho e nas pessoas sem rua para andar, para estar e muito menos para pedalar (as canhestras ciclovias pintadas nas faixas de rodagem são anedotário para caldenses vindouros que saberão o significado de mobilidade urbana, relembrando que estas criativas ciclovias foram iniciadas nos últimos meses do anterior executivo camarário). Uma cidade pode ser muito mais, a nossa tem tudo: identidade, património, e ainda fomos bafejados pelos deuses que nos concederam um clima que, à medida que se agudizam as alterações climáticas, se vai tornando mais precioso. O que nos falta? Não navegar à vista de pomposas inaugurações que dão ótimas selfies e stories nas redes sociais, mas que pouco acrescentam ao concelho.

Urge desenvolver Políticas Públicas (PP) prospetivas e baseadas em evidências científicas, através de sistemas de apoio à decisão, ferramentas, sobretudo computacionais, que constituem modelos analíticos, criando interfaces entre gestores/formuladores de PP e os diversos stakeholders (perdoem o anglicismo), envolvendo desta forma todas as partes interessadas na formulação, implementação e avaliação das PP, i.e., gestão colaborativa, governança, cidadania fomentada pela administração pública.

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Mas antes de tudo é preciso definir que PP queremos, o que deve estar (ou não) na agenda, e neste ponto é essencial que percebamos o poder que todos/as temos enquanto Homo Politicus. Estabeleçamos as nossas prioridades comuns: O novo Hospital; a reabilitação dos pavilhões do parque; a desburocratização dos serviços públicos locais; um planeamento urbano de futuro que analise cenários, antecipando futuros possíveis, (re)construindo um concelho não para carros ou para o betão, mas para as pessoas, que proporcione qualidade de vida e conforto; reabilitação urbana e coesão territorial; investimento nos nossos atributos diferenciadores (só alguns: a praça da fruta; a cerâmica de autor; a literatura e o teatro; a agricultura; a ESAD…).

Inovemos, mas acima de tudo, exijamos aos nossos representantes uma irrepreensível ética de virtudes, conforme definiu Aristóteles.

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